A entrevistada de hoje é a Rute de 35 anos, casada e com um filhote de 8 anos. Está no Reino Unido desde meados de Janeiro de 2013 e já conquistou o seu espacinho por estas bandas.
O que te motivou a
emigrar?
Há
quem diga que nasceu no corpo errado, eu sabia que tinha nascido no
país errado! De qualquer forma o momento da verdade foi a declaração
das finanças atestando que ganhava cerca de 65€/mês (Professora
de Atividades de Enriquecimento Curricular).
Mas
não foi o único motivo, andava a torturar-me desde que o meu filho
entrou para a escola primária! Pensava todos os dias em ensino
doméstico porque achava que a escola estava toda errada para ele!
Porquê a escolha do Reino Unido, particularmente Gravesend?
O Reino Unido porque proibiu os
corantes e aromas artificiais na comida! Porque falo inglês! Porque
nas escolas o ensino é socio-construtivista e há por norma mais do
que um adulto por sala! Porque há uma cultura de incentivo à
infância! E, claro, porque me pareceu que ainda havia emprego.
Gravesend porque tinha
uma amiga aqui. Ponderei Londres por causa do apoio da Britbound, mas acabei por escolher ter um ponto de apoio
mais familiar. Estou muito feliz com a escolha! Fica perto de tudo e
ainda assim tem um ambiente semi-rural LOL ;)
Como foi o teu
princípio?
Tinha a amiga, é
verdade, que foi ótimo nos primeiros dias, mas, ela tem a vida dela
e eu tinha a minha nova vida para construir! Ela ajudou a encontrar
um quarto numa casa partilhada e num jantar de amigos acabou por
saber de uma vaga no Bluewater que acabou por ser o meu 1º emprego!
Foi tudo fantástico!
Acho que tive muita sorte!
A
maior dificuldade foi estar longe do meu filho por 3 meses, mas
ele foi fantástico e nunca chorou!
* Bluewater - centro comercial localizado no county de Kent
* Bluewater - centro comercial localizado no county de Kent
Qual foi o
sentimento dos primeiros dias / meses?
Era um misto de
insegurança, felicidade, saudades do filhote! Mas acho que me
adaptei muito bem!
Estava a nevar,
lembro-me de ficar horas a olhar para a neve e de ficar triste porque
o meu miúdo ia adorar brincar com a neve. Por isso sim, as saudades,
a tristeza de não estar a partilhar a experiência com o filhote
foram os sentimentos dominantes.
Que
aspetos positivos/ negativos recordas
aquando da mudança?
Negativo:
o pior foi estar longe do filhote…
Positivo:
tudo o resto foi positivo.
O
que aqui conquistaste corresponde às expectativas que trazias? Em
que sentido?
Corresponde e excede as
expectativas! Tenho trabalho! A minha formação e experiência
pessoal são reconhecidas! O meu filho está a integrar-se muito bem e
adora a escola (o que não acontecia em Portugal)!
Como diz o anúncio:
“Aqui vou ser feliz!”
Avalia de 0 a 10
(sendo 10 nota máxima positiva) a tua experiência de forma geral.
10
De que mais sentes
falta?
Do
filhote, como já disse. Mas agora que ele está cá … sinto falta
do peixe e de vinho para cozinhar. Sinto falta da minha máquina de
fazer pão, da minha cozinha no geral … mas lá chegarei
De que forma matas
a saudade de Portugal?
Eu confesso que não
tenho saudades…
Achas-te, como
emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Não. Mas eu não me
considero emigrante no sentido de ser um português fora do seu país.
Eu considero-me uma cidadã europeia que mudou de país, quero
conhecer e abraçar a cultura do país que me acolheu e me tem
tratado tão bem.
Recordando os
primeiros tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado
que queiras partilhar?
Em termos culturais…
toquei, de forma meiga, no braço de uma criança que tinha
mergulhado a mão num pote de doces na loja onde trabalhava e
percebi, pelos gritos da mãe, que tinha feito algo de muito grave.
Por aqui ninguém deve, em circunstância alguma, tocar numa criança…
infelizmente a solução das colegas nativas era gritar com a criança
ou fechar o pote entalando a mão da criança … honestamente, a
criança não se assustou com a minha intervenção, porque foi meiga
e nada brusca e completamente adequada à idade… mas agora já
sei: Nunca tocar numa criança!
Na língua… embora
domine o inglês, na minha primeira ida a Londres tinha de comprar o
bilhete de comboio e as opções eram “single” e “return”.
Ora eu era só uma, queria, sem duvida, um “single” e como não
encontrava uma opção “single & return” achei que podia
comprar o “return” no regresso (sim, eu nasci loira) e acabei por
gastar o dobro do que precisava… afinal “return” implica a
viagem de ida também e custa apenas mais uns “pence”: Lesson
learned!
Farias tudo de
novo ou o que mudarias?
Fazia tudo novamente!
Voltarias a viver
em Portugal?
Não!
Onde
e como te vês daqui a uns 15 ou 20 anos?
O plano é ficar por
aqui até o miúdo ir para a universidade. Depois ele pode escolher o
país onde quer estudar e eu mudo novamente. Gosto da Alemanha, da
Dinamarca… desta vez gostava de aprender um novo idioma.
E
depois, meio a sério meio a brincar, digo que ao miúdo vou dar asas
para voar para onde ele quiser… eu… vou reformar-me e comprar
um barco e uma casa nas Caraíbas, passear turistas e literalmente
dormir à sombra da bananeira… e como o destino é interessante
pode ser que o miúdo lá passe férias! LOL
O que
recomendarias a alguém que quisesse emigrar?
Coragem. Todas as
mudanças são assustadoras e como todos os medos a única coisa que
temos de fazer é parar e pensar se é seguro avançar. E,
normalmente, é! Na pior das hipóteses são apenas mais umas férias…
Claro
que ajuda ter o suporte financeiro e emocional dos amigos e da
família. E depois fazer da internet a nossa melhor companheira e
nunca parar de pesquisar mais e mais sobre o que podemos fazer para
atingir objetivos… e perguntar, claro, porque perguntar não
ofende ninguém!
Obrigada pela partilha Rute! Se o teu filho não aceitar as férias nas Caraíbas podes sempre contar connosco! Nós agradecemos ;)
Background photo | Foto de fundo por: Only Deco Love