Hoje recebemos o Miguel Coimbra aqui no CPI. Tem 30
anos, vive em união de facto com a sua namorada e têm uma filha de
2 meses. O Miguel está emigrado na Bélgica há mais de 16 anos. Miguel, bem-vindo ao blogue do CPI!
O que te motivou a
emigrar?
Eu diria mais, o que me
obrigou a emigrar... pois aos 14 anos, não tive outra alternativa,
na altura detestei a minha mãe e o meu padastro por terem tomado
essa decisão, fiz-lhes a vida negra, penso que a pré-adolescencia é
a pior fase para uma mudança tão radical. Hoje, com o meu olhar de
adulto e de pai, percebo as razões que eles tinham, e o mais certo é
que eu teria feito o mesmo. Na altura, a vaga de emigração era muito
fraca e não era muito comum, especialmente para a Bélgica ...
Depois da falência
brutal de ambos o restaurante e empresa de confecção que ambos
tinham em Portugal, decidiram deixar as dividas e a vida para trás e
vir para o centro da Europa para uma segunda chance.
Quanto a mim, acabei o
meu 8° ano colectivo, e tive que segui-los.
Porquê a escolha da Bélgica?
O meu padastro tinha
uma irmã em Bruxelas que tinha aberto um restaurante, decidiram vir
trabalhar com eles após uma visita uns tempos antes...
Como foi o teu
princípio?
Foi horrível, cheguei
a Bruxelas no dia 7 de Julho de 1997, com 2 meses de férias onde a unica coisa a fazer era ver TV em Francês e Holandês (sim, na Bélgica,
há 2 linguas nacionais...).
Qual foi o sentimento
dos primeiros dias/meses?
Comecei a escola em
Setembro, os primeiros dias foram mesmo dificeis, mas tive a sorte de
me terem posto num programa para aprender a falar francês para
estrangeiros. Por isso o primeiro ano tinha Francês – como língua
estrangeira - metade da semana e a outra metada aulas normais como Matemática, Inglês, Física, Química, etc... Mas reprovei aquele
ano lectivo, obviamente...
Que aspectos positivos/
negativos recordas aquando da mudança?
O mais difícil é ter a impressão de ter perdido os amigos, os primos e todo o resto
da família dum dia para o outro. O lado positivo é ter a sorte de
estar na capital da europa, nunca tinha visto um eléctrico ou um
metro antes, e ver pessoas tão diferentes.
O que aí conquistaste
corresponde às expectativas que trazias? Em que sentido?
Embora, não tivesse
nenhuma espectativa na altura, consegui aprender a falar francês em
menos de um ano (pelo menos sem dar muitas "calhoadas"). Todos me
diziam que nunca iria perder a pronúncia aportuguesada na altura porque aos 14 anos era tarde demais, mas nada disso é verdade, basta
querer... pois o ano a seguir era o melhor da turma.
Na altura, a maior
expectativa que tinha era voltar para Portugal o mais rápido
possível!! Assim que tivesse 18 anos... mas as expectativas saiem
sempre do avesso e entretanto tirei um curso... conheci a minha
namorada e arranjei emprego... e foi cada vez mais dificil voltar e
deixar tudo o que construi aqui.
Avalia de 0 a 10 (sendo
10 a nota máxima positiva) a tua experiência de forma geral.
Tendo em conta desde
que estou aqui diria 7/10. Hoje sinto-me não só Português, mas
também metade Belga, fui caloiro na universidade de Bruxelas e vivi
momentos inesqueciveis aqui. Afinal, já vivi mais aqui do que em
Portugal.
Do que mais sentes
falta?
Sem dúvida de namorar
em Português, adoraria poder chamar “mor” a alguém!
Dos abraços dos primos
e dum cafézinho com os amigos depois duma mariscada à beira-mar
numa noite quente.
De que forma matas a
saudade de Portugal?
Embora tenha saudades
de Portugal todos os dias, é muito raro tentar matá-las aqui e
aguardo para quando volto de férias... Mas hoje em dia temos a
sorte de poder ver a família, falar com eles pela net e até apanhar
o avião dum dia para o outro.
Achas-te, como
emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Sim, enquanto
estudante participei durante alguns anos muito activamente no site
da comunidade portuguesa da Bélgica de divulgação e promoção de
lojas, comércios e empresários portugueses, tenho muita honra da
minha cultura e partilho muitas vezes com toda a gente com quem falo!
É incrivel como somos amados fora do nosso país!!
Recordando os primeiros
tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado que queiras
partilhar?
Lembro-me de perguntar
à professora de Holandês, qual parte do quadro estava escrito em
Francês e qual parte estava escrito em Holandês para tentar
adivinhar a tradução para Português... ^_^
Farias tudo de novo ou
o que mudarias?
No regrets.
Pensas voltar a viver
em Portugal?
Sim, de certeza
absoluta!!!!
Onde e como te vês
daqui a uns 15 ou 20 anos?
Fora da Bélgica, sim!
Quero emigrar da Bélgica como emigrei de Portugal e ir para outro
país, sonho em ir morar para São Francisco ou outro país qualquer.
O que recomendarias a
alguém que quisesse emigrar?
A minha maior
recomendação é de não emigrar na única perspectiva de ganhar
dinheiro e voltar para Portugal, comprar um carro e uma casa!! Por
favor, não vivemos nos anos 70... Algo que também não suporto é
emigrantes a chorarem que em Portugal tudo é melhor, mais bonito e
fora tudo é feio e mau e que tão cheios de saudades de tudo e só
falam tuga e vêem a RTP i!! A nossa casa é onde dormimos à noite
;-)
Eu sei que por vezes é
difícil aceitar a diferença, mas é importante fazer esse esforço.
Na minha opinião: emigrar é muito mais do que dinheiro, é
enriquecer-se de novas culturas, experiências, aprender novas
línguas, e sobretudo ter novas oportunidades para evoluir...
Ou talvez, o que estou a dizer seja tudo mentira e é simplemente para me convencer e
esconder as saudades que eu tenho do meu país!!
Obrigada pela partilha Miguel! Esperamos sinceramente que consigas realizar o teu sonho de emigrar de novo. Sucesso!
Código Postal
Internacional - BLOG