Pouco
tempo após chegar a Inglaterra foi inevitável e prioritário
inscrever-me no Centro de Saúde da minha zona de residência. Para
além do preenchimento de um formulário foi-me também pedido o
comprovativo de morada, pelo que tive de esperar por uma carta do
banco onde entretanto tinha aberto conta. Para quem arrenda um quarto
em que as despesas de água, luz, gás e council tax estão
incluidas o único comprovativo de morada válido é mesmo o extracto
bancário. Com ele e com o meu formulário preenchido fiz a dita
inscrição no Centro de Sáude onde, de imediato, me marcaram uma
consulta com a enfermeira Maria que, vim a descobrir, era
Portuguesa.
O dia da consulta chegou e lá fui eu passar alguns
minutos na sala de espera (não muitos felizmente). Como eu já
imaginava a enfermeira Maria afinal era enfermeira Fátima o que me
deu a certeza que, para mal dos meus pecados, iria passar a ser
Maria também. Porquê? Porque 70% das mulheres Portuguesas,
registadas até aos anos 80 (provávelmente), têm Maria no primeiro
nome: Maria da Graça, Maria Teresa, Maria das Dores, Maria do Carmo,
Maria Helena, Maria Joana, Maria das Couves and so on... e como aqui
só interessa primeiro e último nome... lá perdi eu a minha
identidade e passei a ser chamada de Maria, como certamente todas as
mulheres da comunidade portuguesa em Inglaterra.
Mas passando esta
fase de desabafo de uma Maria que nunca gostou de ser Maria e que se
vê obrigada a conviver com uma mudança de nome em tenra idade...
desta forma e sem mais delongas, passo a contar a minha mágnifica
consulta com a enfermeira Maria.
Portuguesa a viver em
Inglaterra há muito tempo, foi tentando falar comigo em Português,
mesmo sem eu ter pedido mas por um lado agradecendo, embora já lhe
fossem saindo naturalmente algumas palavras inglesas pelo meio das
portuguesas. A consulta não foi demorada, pesei-me (escusado dizer
que me recusei a olhar para o ponteiro da balança), pediu a altura,
doenças graves, doenças nos parentes próximos, filhos, ultimo
papanicolau, contraceptivos, bla bla bla e alguma conversa extra pelo
meio. Depois explicou como tudo funciona por cá.
Básicamente é
simples e muito idêntico a Portugal, se queres ser bem atendida, que
levem a sério as tuas queixas e realmente te curem... vai a um
médico privado. A única importante diferença é que, para seres
mal atendida, aqui não pagas nada e em Portugal ainda pagas por
cima.
Aqui temos direito a consulta de planeamento familiar em que
o papanicolau e contracepção são gratuitos, qualquer exame que
seja pedido também não se paga, o problema é que por não se pagar
dificilmente eles mandam fazer, não há exames de rotina como fazia
em Portugal tantas vezes, por isso algum problema que se tenha só
será detectado em estado mais avançado, quando realmente os
sintomas forem visíveis e não deixarem muitas dúvidas. Pelo que o
ideal é mesmo não ficar doente.
Mas voltei para casa com um
frasquinho para a urina a entregar quando lá voltasse, o conselho de
lá ir passado 2 semanas a uma consulta de planeamento familiar (que
é por ordem de chegada pelo que imaginei que iria penar à espera) e
quando quisesse podia marcar consultas com a minha médica "de
família", o que é sempre bom pois nos últimos tempos já não
tinha tal coisa em Portugal, os médicos de família estavam
esgotados.
Qualquer dor ou indisposição, é aparecer, caso
seja ao Domingo em que o centro está fechado é só ligar que há um
médico sempre de plantão.
As receitas são pagas, cada receita
custa £7.85, seja qual for o medicamento é esse o valor que
pagamos, se for só para dores o melhor é comprar sem receita senão
em vez de £3 pagamos as £7.85. Claro que há pessoas isentas e para
essas sim, vale a pena ter receita para tudo e mais qualquer
coisa.
E foi assim a minha primeira viagem ao mundo da saúde em Londres!