A realidade dos Arquitectos portugueses que procuram trabalho no exterior não é diferente da maioria dos emigrantes graduados ou não. São raros os portugueses que escolhem emigrar por opção e não por necessidade. Quem emigra sai, essencialmente, em busca de trabalho, em busca de estabilidade financeira e profissional.
O texto que partilhamos a seguir é do Diário Imobiliário e retrata a necessidade dos Arquitectos saírem pelo mundo em busca de trabalho e com o que podem ou não contar lá fora.
"Tem apenas 27 anos, é
arquitecto e já tem a experiência de trabalhar num grande atelier
em Espanha, um dos melhores da Europa. Tiago Antão após terminar o
curso de arquitectura, decidiu apostar no mercado internacional e
depois da experiência, recomenda a qualquer colega.
Não tem dúvida que
foi a melhor opção que tomou tendo em vista o panorama que se vive
em Portugal. No escritório que trabalhou, surpreendeu-o a qualidade
dos recursos físicos, materiais e humanos, assim como a organização
e gestão que o tornava bastante eficiente, produtivo e rentável, o
que se reflectia nas boas condições e remunerações oferecidas aos
colaboradores. “Nele trabalhei num ambiente multicultural e com
pessoas muito competentes, o que me fez evoluir bastante a nível
profissional. No escritório elaborávamos constantemente concursos
internacionais de arquitectura, onde concorríamos contra os
escritórios de arquitectura de topo europeus e mundiais”, lembra.
Tiago Antão é um dos
exemplos de muitos jovens arquitectos que ao terminarem o curso não
tiveram outra alternativa senão emigrar. Lá fora as oportunidades
surgem com mais frequência e as vantagens são muitas mas será que
todos têm o sonho e o desejo de irem trabalhar para o estrangeiro? A
verdade, é que mais do que vontade é a necessidade que os leva à
procura de trabalho pelo Mundo.
O Diário Imobiliário
falou com alguns arquitectos, sobretudo aqueles que decidiram ser uma
voz e uma ponte de todos os que andam espalhados pelos quatro cantos
do Mundo a falarem português e a fazerem o que mais gostam:
arquitectura.
Tiago Antão é um
deles que juntamente com Vítor Rocha criaram a página
web Arquitectos Portugueses no Mundo (APM) em 2011. Uma
página que tem vindo a crescer e a proporcionar informação em
torno das questões e tendências relativas à emigração dos
arquitectos portugueses e à internacionalização das empresas de
arquitectura portuguesas.
Bruno Moreira, é outro
jovem arquitecto que criou a página Arquitectos pelo Mundo, um
mapa dos arquitectos portugueses que se encontram a exercer a sua
actividade profissional fora de Portugal que pretende dar
visibilidade a uma realidade que afecta estes profissionais, por
imperativo ou opção. Bruno revela que já tem cerca de 250
arquitectos registados, mas acredita que este número está muito
longe do número real de arquitectos que, efectivamente, se encontram
a exercer a actividade profissional de arquitecto fora do país.
Trabalhar fora é uma
necessidade e não uma opção
Estes arquitectos têm
a noção clara sobre o que leva os arquitectos portugueses a saírem
de Portugal. São unânimes em confirmar que a maioria procura
trabalho fora do país, não por opção mas sim por necessidade.
Bruno Moreira explica
que no âmbito de uma mesa-redonda organizada recentemente pelaOrdem
dos Arquitectos Secção Regional Sul (OASRS), os Arquitectos pelo
Mundo lançaram um inquérito aos arquitectos registados no mapa. “As
40 respostas que recebemos deram-nos um quadro impressionante sobre a
questão, contado na primeira pessoa: percebemos que os arquitectos
pelo mundo são efectivamente, na sua maioria, jovens que emigraram
recentemente, e é particularmente relevante o facto de 1/4 deles ter
referido que não teve qualquer experiência profissional em
Portugal. Isto leva-nos a colocar a questão de ‘o que é ser
arquitecto português’ sem nunca ter exercido em Portugal; ou se
estamos a internacionalizar a arquitectura ou a exportar arquitectos;
ou ainda se estes arquitectos regressarão algum dia a Portugal e
contribuirão para o seu desenvolvimento”, revela.
Também Tiago Antão e
Vítor Rocha referem ainda outra questão importante na emigração
dos arquitectos. Apesar de não existirem dados estatísticos, é
possível afirmar que o desejo de emigrar, por forma a resolver a
falta de trabalho, é crescente. “Contudo, é necessário frisar
que conseguir emprego no estrangeiro não é fácil e os arquitectos
portugueses não são os únicos a emigrar. Daí que a emigração,
embora ajude, não é a solução para o problema causado com a
formação excessiva de arquitectos em Portugal”, admitem.
Candidaturas
espontâneas ou à descoberta por alguns meses
A forma de os
arquitectos encontrarem trabalho fora de Portugal é na maioria das
vezes através do envio de currículos com uma candidatura espontânea
ou de candidaturas a ofertas via internet. Bruno Moreira refere que a
maioria tem experimentado uma estratégia "mista", isto é,
não ficam em Portugal a enviar emails e currículos para todo o lado
mas também não emigram de forma definitiva sem terem uma
perspectiva minimamente segura: optam antes por viajar alguns dias
para essas cidades e países, eventualmente ficam em casa de amigos e
colegas arquitectos que já lá estão, e percorrem a cidade
deixando, pessoalmente, os currículos e portfolios nos gabinetes de
arquitectura ou empresas de construção. “É uma forma de
demonstrar interesse mais eficaz, provavelmente, do que um email
enviado para 300 destinatários”, adianta.
Também para Tiago
Antão e Vítor Rocha, no caso dos arquitectos mais jovens o trabalho
em empresas estrangeiras é conseguido maioritariamente através de
candidatura espontânea ou de candidatura a ofertas via internet,
tendo as candidaturas maior taxa de sucesso em empresas de
arquitectura de autor. “Já as grandes empresas internacionais de
arquitectura comercial, muitas vezes ligadas a construtoras e
promotores imobiliários, recrutam sobretudo arquitectos mais
experientes. A situação mais comum de saída dos arquitectos é com
contrato apalavrado ou assinado, ou pelo menos com entrevistas de
trabalho agendadas. Contudo, há sempre quem parta em busca de
trabalho sem nada definido, os quais podem passar meses sem conseguir
trabalho na área, por vezes conseguem e outras vezes regressam”,
explicam.
Europa a mais apetecida
e com mais ofertas
A Europa continua a ser
o destino mais procurado pelos arquitectos portugueses e o que
apresenta também melhores oportunidades. A Europa Central,
nomeadamente a Suíça, o Reino Unido, a França e os Países Baixos
e alguns países nórdicos, são os que recebem mais portugueses.
O Brasil tem também
sido escolhido para alguma procura e “os arquitectos com mais anos
de experiência encontram-se sobretudo em países lusófonos, como o
Brasil e Angola, e, embora com menos expressão, em países do Médio
Oriente, como o Kuwait, Dubai, Qatar e Emirados Árabes Unidos, e da
Ásia, como é o caso de Macau e China”, salienta Tiago Antão.
A oportunidade é uma
janela estreita que se fecha rapidamente
Contudo, Bruno levanta
uma questão que é importante para os arquitectos que pensam em
emigrar. “De notar que estas oportunidades poderão tornar-se cada
vez mais escassas – a Suíça e o Reino Unido estão a definir ou
pensar definir, precisamente, limites à imigração nos seus países.
A questão com as ‘oportunidades’ é precisamente essa – elas
são uma janela estreita que se fecha rapidamente. Há que estar
atento ao panorama económico global, às redes de comunicação
internacionais e ao mercado de trabalho porque, muitas vezes, ser
seleccionado para um lugar é mais estar no local certo, à hora
certa, com vontade de (re)aprender e integrar uma estrutura, do que
apresentar um Currículo ou portfolio individual brilhantes”,
salienta.
Maioria recebe o
suficiente para fazer a sua vida e poupar no final do mês
Para quem tem dúvidas
se ir para fora compensa financeiramente, naturalmente que tanto
Bruno, como Tiago ou o Vítor, são unânimes em afirmar que sim.
Sobretudo, quando não há trabalho em Portugal e quando há, a
remuneração é cada vez mais baixa.
Tiago e Vítor revelam
que há que separar condições distintas. No estrangeiro, à
semelhança de Portugal, existem estagiários não remunerados ou
insuficientemente remunerados, contudo a maioria dos estagiários
consegue pelo menos não ter prejuízo. Já um jovem arquitecto
recebe geralmente o suficiente para fazer a sua vida e poupar no
final do mês, neste caso e dependendo do país de destino as
poupanças poderão ser boas. “Contudo, é importante ter em conta
que um dos motivos que leva uma empresa a contratar um jovem
arquitecto estrangeiro, para além das suas competências
profissionais, é o facto de ser um trabalhador mais barato
relativamente aos nativos. Por fim, um arquitecto com anos de
experiência e qualificado, que apresenta um valor acrescentado há
empresa, poderá conseguir um ordenado que lhe permite um bom nível
de vida e poupanças elevadas”, admite Vítor Rocha.
Contudo, Bruno Moreira
alerta para algumas questões. “Testemunhos de colegas desmentem a
existência do el-dorado – as remunerações são superiores às
praticadas em Portugal, mas também o são o custo de vida, as
despesas com habitação, os seguros profissionais e de saúde (por
vezes obrigatórios), e… as viagens para Portugal”, adianta.
Convém ter um fundo de
maneio para o estabelecimento num país
Qualquer um dos
responsáveis não consegue encontrar grandes dificuldades na
adaptação e na aceitação dos arquitectos portugueses nos locais e
nos ateliers onde se instalam. Bruno Moreira, refere que cada país
possui as suas condicionantes específicas: apontam-se, sobretudo,
dificuldades no reconhecimento da formação profissional e
académica, e dificuldades em dominar a língua "técnica"
associada à arquitectura e à construção, que vai desde o nome dos
processos e fases de um projecto aos materiais de construção. “A
língua é uma dificuldade mas, aprendida, é uma mais-valia”,
esclarece.
Também Vítor e Tiago
revelam que pela experiência o processo de adaptação dos nossos
arquitectos é relativamente rápido e sem grandes dificuldades. No
entanto aconselham, “convém ter um fundo de maneio para o
estabelecimento e para qualquer eventualidade. Poderá existir a
questão da língua, e, embora o inglês ajude no início, é
necessário aprender a língua local para o quotidiano e para
progredir profissionalmente. Contudo, para um arquitecto jovem que
cresceu na era da globalização e do mercado global, do Programa
Erasmus, dos estágios e bolsas no estrangeiro e dos voos low
cost, a deslocação do seu país e permanência num outro para
trabalhar é uma situação encarada com relativa naturalidade.
Conhecemos também casos de arquitectos mais velhos que partiram para
países exóticos e que estão satisfeitos com a decisão e com a
mudança que deram à vida”, admitem.
As redes sociais têm
sido aliadas fortes nesta caminhada
Os Arquitectos
pelo Mundo e os Arquitectos Portugueses no Mundo são
alguns exemplos de como a internet e as redes sociais podem ter aqui
um papel preponderante para esta caminhada pelo mundo dos arquitectos
portugueses. Para alguns esta experiência além-fronteiras pode ser
apenas uma experiência temporária e para muitos talvez seja o
destino da sua vida.
Mas aqui em Portugal,
ou têm de mudar de profissão ou se quiserem seguir o sonho de fazer
arquitectura, a única solução é mesmo pegar no currículo e
enviar para empresas fora do país.
O arquitecto Eduardo
Souto Moura confessa mesmo: “O que tenho aconselhado à minha filha
e aos meus amigos é que passem uns tempos fora. Antigamente, as
pessoas emigravam e, como existiam 20 mil arquitectos cá, quando
regressavam perdiam trabalho. Agora podem ir para fora sossegados,
para onde quiserem, porque aqui não se vai fazer nada”."
Fonte: http://www.diarioimobiliario.pt/actualidade/arquitectos-a-procura-de-emprego-pelo-mundo/
Links úteis: http://arquitectospelomundo.com/
http://arquitectosportuguesesnomundo.blogspot.co.uk/
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