A Sandra Moreno é a nossa entrevistada de hoje. Com idade compreendida entre os 30 e os 35 anos a Sandra está emigrada no Reino Unido há 14 anos e conta-nos hoje um pouco da sua experiência.
O que te motivou a
emigrar?
Educação –
Universidade
Porquê a escolha
do Reino Unido, particularmente Liverpool?
Escolhi Liverpool,
Reino Unido, pois oferecia o curso que eu procurava. E uma das minhas
amigas tinha lá uma prima.
Como foi o teu
princípio?
Vim com as minhas duas
melhores amigas. A inscrição na faculdade foi feita em Portugal
através do British Council, o processo demorou um ano. O alojamento
também foi arranjado ainda em Portugal, portanto foi só uma questão
de aterrar e ir logo para a residência de estudantes. Chegámos uma
semana antes do início do ano lectivo o que nos facilitou conhecer a
cidade, as pessoas, comprar umas coisinhas para o quarto e claro
aproveitar o “freshers week”.
* “freshers week” - correspondente à semana do caloiro em Portugal
Qual foi o
sentimento dos primeiros dias / meses?
Nas primeiras semanas
foi um sentimento de alegria, entusiasmo e orgulho. Era jovem,
encontrava-me longe de casa com as minhas melhores amigas. Mas
passado uns meses sofri bastante por não ter a família por perto,
chorava muito, etc.. esse sentimento persistiu por um ano e pouco a
pouco fui-me habituando à minha nova vida.
Que aspectos
positivos/ negativos recordas aquando da mudança?
Positivos: Cresci muito
como pessoa, aprendi a conviver com pessoas e situações
completamente diferentes da minha realidade. Conheci países,
cidades, culturas diferentes.
Negativos: Uma coisa
muito pequena, mas que tem um grande impacto, hoje noto que não toco
muito nas pessoas como uma boa portuguesa/caboverdeana. Explicando:
muito raramente dou beijinhos às pessoas (incluindo os da minha
cultura). Não brinco tanto com as crianças na rua (pois aqui existe
um exagero que os adultos não devem falar ou brincar com as
crianças, sem que os pais façam uma cara feia).
E por último,
infelizmente começo a perder a fluidez da língua portuguesa (falada
e escrita).
O que aqui
conquistaste corresponde às expectativas que trazias? Em que
sentido?
Sim a 90%... Vim para o
Reino Unido porque tinha o sonho de expandir a minha mentalidade,
conhecer outras culturas, aprender algo novo, viajar, etc.. portanto
até hoje tudo isso corresponde à minha expectativa. Os outros 10%,
aprendi que a cultura Britânica não é tão romântica como
aprendemos em Portugal, que o nível de qualidade da educação
escolar não se compara ao nível de Portugal.
Avalia de 0 a 10
(sendo 10 a nota máxima positiva) a tua experiência de forma geral.
10
De que mais sentes
falta?
Da família
De que forma matas
a saudade de Portugal?
Com a comida (cozinhar
em casa ou comer em restaurantes), seguindo as notícias de Portugal
(Jornal on line) e falando com os familiares sempre que possível.
Achas-te, como
emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Não, embora muitas
vezes dou por mim a divulgar a comida portuguesa e os habitos
alimentares, mas sinceramente não divulgo muito a cultura
Portuguesa, creio que um dos motivos deve ser o facto de eu ter
nascido em Cabo Verde.
Recordando os
primeiros tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado
que queiras partilhar?
Tenho tantos episódios
mas entre eles há um que se destaca: uma vez fui ao banco com as
minhas amigas, e no banco encontrava-se um rapaz muito bem parecido,
tal como nós, ele encontrava-se na fila para ser atendido. Esse
rapaz tinha a cara cansada e olhos bastante vermelhos. Viro-me para
as minhas amigas e digo em Português: “Esse rapaz é lindíssimo,
mas tem cara de drogado, o que é uma pena”. Ele olha para trás e
diz EM PORTUGUÊS: “Por acaso não me drogo, acabei de acordar...”.
Farias tudo de
novo ou o que mudarias?
Faria tudo de novo,
igual, sem mudar nada.
Voltarias a viver
em Portugal?
Talvez, depois da idade
de reforma.
Onde e como te vês
daqui a uns 15 ou 20 anos?
Em Inglaterra ou
algures em África (Continente).
O que
recomendarias a alguém que quisesse emigrar?
Que se prepare
MUITO bem antes de emigrar (financeiramente e psicologicamente).
Emigrar não é para toda a gente, há pessoas que não se adaptam a
viver longe dos familiares e amigos.
Que venha com uma
mente aberta sem grandes expectativas sobre o país de acolhimento,
e que tenha um propósito.
Que tente arranjar
trabalho ainda no país de origem (pois às vezes é muito
complicado sobreviver no país de acolhimento sem meio de
subsistência).
Acima de tudo, que
tenha a noção da realidade do país de acolhimento.
Background photo | Foto de fundo por: Only Deco Love