Hoje recebemos aqui no CPI para mais uma partilha de experiências a Gracinda Cabral Roças de 40 anos. A Gracinda é casada e mãe de 3 crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 14 anos. Emigrante em França há 2 anos a nossa entrevistada é dona de casa a tempo inteiro e cheia de objectivos para cumprir. Bem-vinda ao CPI Gracinda!
O que te motivou a
emigrar?
Na verdade foi uma decisão
do meu marido. No início seria apenas ele a emigrar, mas depois de 5
meses ele já tinha tudo preparado para a nossa chegada e estadia,
então foi só fazer as malas e virmos para cá.
Porquê a escolha de
França?
Foi um convite. Um
amigo já havia feito esse convite várias vezes e naquela altura o
meu marido estava desempregado e eu também. Ir para França foi uma
luz no fundo do túnel.
Como foi o teu
princípio?
No início tudo era novo
então estava entusiasmada, mesmo sabendo que o meu francês era
terrível e teria muitos problemas! No entanto a esposa do amigo do
meu marido deu-me o apoio necessário, assim como o patrão do meu
marido que também é português.
Qual foi o sentimento
dos primeiros dias / meses?
Eu comecei a ver tudo
negro do meu lado! Precisava inscrever os meus filhos nas escolas,
precisava fazer compras… ou seja, precisava organizar-me e, o facto
de não saber falar e de não os perceber, complicou a minha vida no
primeiro mês.
Em Portugal eu vivia em Lisboa e tive de me mudar para
Aveiro, mas a mudança não foi tão dolorosa como vir para cá. Sentimo-nos perdidos, como se fossemos de um outro planeta.
Que aspectos positivos/
negativos recordas aquando da mudança?
O meu filho de 5 anos
não se adaptou muito bem à escola e a minha filha adoeceu, isso
para mim foi terrível, mas pude ver que o sistema de saúde aqui é
do melhor. Quanto à escola, penso que Portugal tem mais e melhores
condições a oferecer aos alunos.
O que aí conquistaste
corresponde às expectativas que trazias? Em que sentido?
Eu em Portugal não
tinha nada, ao ponto de não saber como matar a fome dos meus filhos
no dia seguinte ou na semana seguinte. Hoje, depois de um ano, os meus
filhos não têm necessidade de nada e vivemos razoavelmente bem.
Avalia de 0 a 10 (sendo
10 a nota máxima positiva) a tua experiência de forma geral.
9, porque tenho
objectivos para alcançar!
Do que mais sentes
falta?
Sinto falta de pessoas
perto de mim, tenho vizinhos mas a falta de comunicação ainda
existe. Então praticamente vivo em silêncio!
De que forma matas a
saudade de Portugal?
Bem, por 2 anos tenho
ido a Portugal nas férias e também, quase que diariamente, telefono
para lá, mas é fácil encontrar aqui comerciantes portugueses a
vender produtos portugueses.
Achas-te, como
emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Sim claro. Todo o
Português vivendo fora do seu país representa-o. Agora parte de cada
um se o vai representar bem ou mal!
Recordando os primeiros
tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado que queiras
partilhar?
Bem! Logo no início, eu
e o meu filho fomos às compras, e ao colocar os produtos na mesa
rolante da caixa, a senhora que estava ao meu lado deixa uma garrafa de
tomate juntar-se às minhas compras, e a senhora da caixa também
registra como minha. Eu, apercebendo-me disso, tento dizer à senhora que
o frasco não é meu! Tudo parou naquele momento e toda a atenção
foi para mim, porque eu gaguejei, fiz gestos e nada! Eu do pouco que
aprendi do francês tentei explicar-lhe de que não falava francês e
que não estava a perceber o que ela estava a dizer. Entretanto, o
gerente apareceu e vocês nem imaginam a festa que eu fiz quando
aquele homem abriu a boca e falou português! Bem a partir dali
começou a ser mais fácil fazer compras!
Tenho uma outra
situação, por exemplo: Os canais de tv aqui são todos franceses ou
dobrados para francês, um dia de manhã estavamos a ver as noticias e
percebo que: "duas crianças disparu...”; Eu entretanto chamo o meu
marido e digo-lhe: - "Olha marido parece que uma criança disparou
sobre outra criança.” Bom... durante o dia só falava disso com o meu
filho. À noite, quando o meu marido viu as notícias, desata às
gargalhadas porque disparu quer dizer desapareceu e não disparou, como eu entendera. A verdade é que
as palavras francesas confundem um pouco por serem parecidas às
portuguesas mas com significado diferente.
Farias tudo de novo ou
o que mudarias?
Claro que faria tudo de
novo, talvez escolhesse outro pais, mas deixaria Portugal para trás.
Pensas voltar a viver
em Portugal?
Já pensei nisso, mas
se isso acontecer será um dia bem lá na frente.
Onde e como te vês
daqui a uns 15 ou 20 anos?
Não sei dizer onde,
mas com alguns dos meus projectos realizados, esse é o meu objectivo.
O que recomendarias a
alguém que quisesse emigrar?
Que comecem a
preparar-se, tanto no idioma como psicologicamente, e que não dêem ouvidos ao que as pessoas falam que é para não virem iludidos. Ir para um
pais estranho é como ir para a selva, encontramos de tudo, e não é
fácil encontrar alguém que nos ajude, temos de ser nós a ir à luta, tomar a iniciativa. Estarem consciente de que não vai ser
fácil nos primeiros tempos. No meu caso depois de quase 1 ano e meio
é que comecei a ver melhoras na minha vida, porque sem o apoio do
estado não conseguimos sobreviver.
Muito obrigada pela partilha Gracinda! Boa sorte e determinação na concretização dos teus objectivos.
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