quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Entrevista com...

Hoje recebemos aqui no CPI para mais uma partilha de experiências a Gracinda Cabral Roças de 40 anos. A Gracinda é casada e mãe de 3 crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 14 anos. Emigrante em França há 2 anos a nossa entrevistada é dona de casa a tempo inteiro e cheia de objectivos para cumprir. Bem-vinda ao CPI Gracinda!



O que te motivou a emigrar?
Na verdade foi uma decisão do meu marido. No início seria apenas ele a emigrar, mas depois de 5 meses ele já tinha tudo preparado para a nossa chegada e estadia, então foi só fazer as malas e virmos para cá.

Porquê a escolha de França?
Foi um convite. Um amigo já havia feito esse convite várias vezes e naquela altura o meu marido estava desempregado e eu também. Ir para França foi uma luz no fundo do túnel.

Como foi o teu princípio?
No início tudo era novo então estava entusiasmada, mesmo sabendo que o meu francês era terrível e teria muitos problemas! No entanto a esposa do amigo do meu marido deu-me o apoio necessário, assim como o patrão do meu marido que também é português.

Qual foi o sentimento dos primeiros dias / meses?
Eu comecei a ver tudo negro do meu lado! Precisava inscrever os meus filhos nas escolas, precisava fazer compras… ou seja, precisava organizar-me e, o facto de não saber falar e de não os perceber, complicou a minha vida no primeiro mês.
Em Portugal eu vivia em Lisboa e tive de me mudar para Aveiro, mas a mudança não foi tão dolorosa como vir para cá. Sentimo-nos perdidos,  como se fossemos de um outro planeta.

Que aspectos positivos/ negativos recordas aquando da mudança?
O meu filho de 5 anos não se adaptou muito bem à escola e a minha filha adoeceu, isso para mim foi terrível, mas pude ver que o sistema de saúde aqui é do melhor. Quanto à escola, penso que Portugal tem mais e melhores condições a oferecer aos alunos.

O que aí conquistaste corresponde às expectativas que trazias? Em que sentido?
Eu em Portugal não tinha nada, ao ponto de não saber como matar a fome dos meus filhos no dia seguinte ou na semana seguinte. Hoje, depois de um ano, os meus filhos não têm necessidade de nada e vivemos razoavelmente bem.

Avalia de 0 a 10 (sendo 10 a nota máxima positiva) a tua experiência de forma geral.
9, porque tenho objectivos para alcançar!

Do que mais sentes falta?
Sinto falta de pessoas perto de mim, tenho vizinhos mas a falta de comunicação ainda existe. Então praticamente vivo em silêncio!

De que forma matas a saudade de Portugal?
Bem, por 2 anos tenho ido a Portugal nas férias e também, quase que diariamente, telefono para lá, mas é fácil encontrar aqui comerciantes portugueses a vender produtos portugueses.

Achas-te, como emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Sim claro. Todo o Português vivendo fora do seu país representa-o. Agora parte de cada um se o vai representar bem ou mal!

Recordando os primeiros tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado que queiras partilhar?
Bem! Logo no início, eu e o meu filho fomos às compras, e ao colocar os produtos na mesa rolante da caixa, a senhora que estava ao meu lado deixa uma garrafa de tomate juntar-se às minhas compras, e a senhora da caixa também registra como minha. Eu, apercebendo-me disso, tento dizer à senhora que o frasco não é meu! Tudo parou naquele momento e toda a atenção foi para mim, porque eu gaguejei, fiz gestos e nada! Eu do pouco que aprendi do francês tentei explicar-lhe de que não falava francês e que não estava a perceber o que ela estava a dizer. Entretanto, o gerente apareceu e vocês nem imaginam a festa que eu fiz quando aquele homem abriu a boca e falou português! Bem a partir dali começou a ser mais fácil fazer compras!
Tenho uma outra situação, por exemplo: Os canais de tv aqui são todos franceses ou dobrados para francês, um dia de manhã estavamos a ver as noticias e percebo que: "duas crianças disparu...”; Eu entretanto chamo o meu marido e digo-lhe: - "Olha marido parece que uma criança disparou sobre outra criança.” Bom... durante o dia só falava disso com o meu filho. À noite, quando o meu marido viu as notícias, desata às gargalhadas porque disparu quer dizer desapareceu e não disparou, como eu entendera. A verdade é que as palavras francesas confundem um pouco por serem parecidas às portuguesas mas com significado diferente.

Farias tudo de novo ou o que mudarias?
Claro que faria tudo de novo, talvez escolhesse outro pais, mas deixaria Portugal para trás.

Pensas voltar a viver em Portugal?
Já pensei nisso, mas se isso acontecer será um dia bem lá na frente.

Onde e como te vês daqui a uns 15 ou 20 anos?
Não sei dizer onde, mas com alguns dos meus projectos realizados, esse é o meu objectivo.

O que recomendarias a alguém que quisesse emigrar?
Que comecem a preparar-se, tanto no idioma como psicologicamente, e que não dêem ouvidos ao que as pessoas falam que é para não virem iludidos. Ir para um pais estranho é como ir para a selva, encontramos de tudo, e não é fácil encontrar alguém que nos ajude, temos de ser nós a ir à luta, tomar a iniciativa. Estarem consciente de que não vai ser fácil nos primeiros tempos. No meu caso depois de quase 1 ano e meio é que comecei a ver melhoras na minha vida, porque sem o apoio do estado não conseguimos sobreviver.

Muito obrigada pela partilha Gracinda! Boa sorte e determinação na concretização dos teus objectivos.

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