Esta semana deu-nos para isto, deve ser da nostalgia do Verão. As férias estão à porta e muitos emigrantes aproveitam esta altura para regressar a Portugal e matar saudades das mil e uma coisas de que se vão privando ao longo do ano. O tempo passa a correr e depressa as férias chegam ao fim e é chegada a hora de voltar. Se por um lado sentimos falta das nossas coisas e da nossa casa, por outro custa sempre dizer adeus à família e aos momentos de sol e lazer que estão tão frescos na nossa memória.
Emigrámos por um propósito específico e se abraçámos esta mudança é porque ela nos traz mais coisas boas do que más e nestas alturas precisamos lembrá-las mais do que nunca.
Não vou muito a Portugal, sou sincera, gosto e sinto falta de muitas coisas do meu país mas também há muitas coisas com as quais já não consigo conviver. Quando estamos de férias tudo parece um mar de rosas e o regresso à realidade, à rotina do dia a dia, custa sempre e parece uma coisa meio cinzenta mas, se virmos mais de perto, não o é de todo e existem muitas coisas positivas no facto de estarmos emigrados e, em especial, emigrados em Inglaterra:
- Trabalho: poder trabalhar, seja com que idade for, com as qualificações que se tiver, com as opções sexuais e religiosas que apetecer, aqui ainda se vai arranjando trabalho sem nos julgarem pelo que fomos ou somos. A tal discriminição que tanto se fala nos direitos humanos aqui é de facto levada a sério.
- Perspectiva de futuro: saber que os nossos filhos terão um futuro melhor do que em Portugal, saber que nós próprios conheceremos um fim mais digno.
- Viver a própria vida: sermos donos do nosso destino e senhores do nosso nariz sem interferência de ninguém, sem ter de ouvir o que é "politicamente" correcto... o correcto para ti é aquilo que tu própria desejas e persegues e não o futuro que os outros acham que deves ter.
- Sobrar dinheiro ao fim do mês: pode nem ser sempre e isto dependerá sempre de pessoa para pessoa, mas aqui há, sem dúvida, maior possibilidade de pagarmos as nossas contas e vivermos melhor, inclusivé ter dinheiro para a viagem anual a Portugal.
- A saúde a custo zero para as crianças: até aos 16 anos as crianças não pagam consultas, medicação, tratamentos dentários (incluindo aparelhos para os dentes), oculista e óculos, exames médicos, análises clinicas, etc.
- A saúde para nós: a saúde pública em Inglaterra não é exemplar mas é absolutamente gratuita. Não pagamos consultas (camofladas com o nome de taxas de moderação), não pagamos análises clínicas, ecografias, raio-x, exames em geral, consultas no hospital, etc. O dentista também é parcialmente financiado pelo estado e para as grávidas e até 1 ano após a gravidez consultas e tratamentos dentários são gratuitos.
- O direito ao passeio: as estradas não são pagas (salvo muito muito muito raras excepções) e estão em bom estado de conservação, mesmo as interiores que nos levam às vilinhas mais castiças.
- O respeito pelos nossos direitos: sermos ouvidos, o direito a reclamar e a valermo-nos dos nossos direitos com sucesso.
- Quinze horas semanais de creche paga a partir dos 3 anos
- Os horários de trabalho: a existência de part-times em muitas e variadas posições que nos permitem voltar ao trabalho após a maternidade sem termos de abdicar de ver os nossos (ainda) bebés durante um dia inteiro.
- Trabalhar a partir de casa: há inúmeras empresas e profissões que permitem-nos ausentar dos escritórios e ficar a trabalhar em casa alguns dias, uma enorme vantagem quando as crianças têm férias, ou quando há greves dos transportes, ou até quando acordamos com uma valente dor de cabeça.
- Os amigos: a diversidade de amigos que fazemos, de todos os cantos do mundo e de todas as faixas etárias, e aqueles amigos que acabam por virar família.
- Os parques: a enorme quantidade de parques e espaços verdes onde podemos caminhar, passear e levar as crianças. Há sempre um perto de nós.
- Os animais: os esquilos e as raposas que convivem com as mudanças urbanisticas, sem serem queimados e apedrejados, e a (quase) inexistência de animais errantes.
E podia continuar mas acho que estas são razões mais do que suficientes para me inspirarem na altura do regresso. E a ti? O que te dá motivação na hora de voltares?