quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Entrevista com...

Hoje recebemos o Miguel Coimbra aqui no CPI. Tem 30 anos, vive em união de facto com a sua namorada e têm uma filha de 2 meses. O Miguel está emigrado na Bélgica há mais de 16 anos. Miguel, bem-vindo ao blogue do CPI!


O que te motivou a emigrar?
Eu diria mais, o que me obrigou a emigrar... pois aos 14 anos, não tive outra alternativa, na altura detestei a minha mãe e o meu padastro por terem tomado essa decisão, fiz-lhes a vida negra, penso que a pré-adolescencia é a pior fase para uma mudança tão radical. Hoje, com o meu olhar de adulto e de pai, percebo as razões que eles tinham, e o mais certo é que eu teria feito o mesmo. Na altura, a vaga de emigração era muito fraca e não era muito comum, especialmente para a Bélgica ...
Depois da falência brutal de ambos o restaurante e empresa de confecção que ambos tinham em Portugal, decidiram deixar as dividas e a vida para trás e vir para o centro da Europa para uma segunda chance.
Quanto a mim, acabei o meu 8° ano colectivo, e tive que segui-los.

Porquê a escolha da Bélgica?
O meu padastro tinha uma irmã em Bruxelas que tinha aberto um restaurante, decidiram vir trabalhar com eles após uma visita uns tempos antes...

Como foi o teu princípio?
Foi horrível, cheguei a Bruxelas no dia 7 de Julho de 1997, com 2 meses de férias onde a unica coisa a fazer era ver TV em Francês e Holandês (sim, na Bélgica, há 2 linguas nacionais...).

Qual foi o sentimento dos primeiros dias/meses?
Comecei a escola em Setembro, os primeiros dias foram mesmo dificeis, mas tive a sorte de me terem posto num programa para aprender a falar francês para estrangeiros. Por isso o primeiro ano tinha Francês – como língua estrangeira - metade da semana e a outra metada aulas normais como Matemática, Inglês, Física, Química, etc... Mas reprovei aquele ano lectivo, obviamente...

Que aspectos positivos/ negativos recordas aquando da mudança?
O mais difícil é ter a impressão de ter perdido os amigos, os primos e todo o resto da família dum dia para o outro. O lado positivo é ter a sorte de estar na capital da europa, nunca tinha visto um eléctrico ou um metro antes, e ver pessoas tão diferentes.

O que aí conquistaste corresponde às expectativas que trazias? Em que sentido?
Embora, não tivesse nenhuma espectativa na altura, consegui aprender a falar francês em menos de um ano (pelo menos sem dar muitas "calhoadas"). Todos me diziam que nunca iria perder a pronúncia aportuguesada na altura porque aos 14 anos era tarde demais, mas nada disso é verdade, basta querer... pois o ano a seguir era o melhor da turma.
Na altura, a maior expectativa que tinha era voltar para Portugal o mais rápido possível!! Assim que tivesse 18 anos... mas as expectativas saiem sempre do avesso e entretanto tirei um curso... conheci a minha namorada e arranjei emprego... e foi cada vez mais dificil voltar e deixar tudo o que construi aqui.

Avalia de 0 a 10 (sendo 10 a nota máxima positiva) a tua experiência de forma geral.
Tendo em conta desde que estou aqui diria 7/10. Hoje sinto-me não só Português, mas também metade Belga, fui caloiro na universidade de Bruxelas e vivi momentos inesqueciveis aqui. Afinal, já vivi mais aqui do que em Portugal.

Do que mais sentes falta?
Sem dúvida de namorar em Português, adoraria poder chamar “mor” a alguém!
Dos abraços dos primos e dum cafézinho com os amigos depois duma mariscada à beira-mar numa noite quente.

De que forma matas a saudade de Portugal?
Embora tenha saudades de Portugal todos os dias, é muito raro tentar matá-las aqui e aguardo para quando volto de férias... Mas hoje em dia temos a sorte de poder ver a família, falar com eles pela net e até apanhar o avião dum dia para o outro.

Achas-te, como emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Sim, enquanto estudante participei durante alguns anos muito activamente no site da comunidade portuguesa da Bélgica de divulgação e promoção de lojas, comércios e empresários portugueses, tenho muita honra da minha cultura e partilho muitas vezes com toda a gente com quem falo! É incrivel como somos amados fora do nosso país!!

Recordando os primeiros tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado que queiras partilhar?
Lembro-me de perguntar à professora de Holandês, qual parte do quadro estava escrito em Francês e qual parte estava escrito em Holandês para tentar adivinhar a tradução para Português... ^_^

Farias tudo de novo ou o que mudarias?
No regrets.

Pensas voltar a viver em Portugal?
Sim, de certeza absoluta!!!!

Onde e como te vês daqui a uns 15 ou 20 anos?
Fora da Bélgica, sim! Quero emigrar da Bélgica como emigrei de Portugal e ir para outro país, sonho em ir morar para São Francisco ou outro país qualquer.

O que recomendarias a alguém que quisesse emigrar?
A minha maior recomendação é de não emigrar na única perspectiva de ganhar dinheiro e voltar para Portugal, comprar um carro e uma casa!! Por favor, não vivemos nos anos 70... Algo que também não suporto é emigrantes a chorarem que em Portugal tudo é melhor, mais bonito e fora tudo é feio e mau e que tão cheios de saudades de tudo e só falam tuga e vêem a RTP i!! A nossa casa é onde dormimos à noite ;-)
Eu sei que por vezes é difícil aceitar a diferença, mas é importante fazer esse esforço. Na minha opinião: emigrar é muito mais do que dinheiro, é enriquecer-se de novas culturas, experiências, aprender novas línguas, e sobretudo ter novas oportunidades para evoluir...
Ou talvez, o que estou a dizer seja tudo mentira e é simplemente para me convencer e esconder as saudades que eu tenho do meu país!!

Obrigada pela partilha Miguel! Esperamos sinceramente que consigas realizar o teu sonho de emigrar de novo. Sucesso!


Código Postal Internacional - BLOG