sexta-feira, 15 de maio de 2015

Emigrar na pele de uma adolescente

Hoje temos uma publicação muito especial aqui no Sunny Dot. Tivemos a oportunidade de fazer algumas perguntas a uma adolescente que se mudou para Inglaterra há menos de um ano. Quisemos saber um pouco o que passa pela cabeça dos mais novos quando os pais tomam esta decisão tão difícil de abandonar tudo e recomeçar de novo longe da família, amigos e de realidades que já conhecem tão bem. A Alice (nome ficticio) tem 12 anos e um dia ficou a saber que a sua vida iria mudar para sempre. Mãe da Alice: “Foi num dia de Verão que disse à Alice que em Outubro iria para Inglaterra. Sabia que a mudança iria ser drástica para todos. Nós estávamos muito apegadas.
Um dia, já a pensar na partida, disse-lhe: Imagina um barco no mar, ele durante a sua viagem tem de navegar estável e seguro, por mais que as ondas balancem, para chegar a bom porto. Assim seremos nós!”

  • Alice, como te descreves? Sou uma pessoa calma, quando não me irritam. Sou sonhadora, meiga e super teimosa.
  • És uma boa estudante? Sim. Tens boas notas? Normalmente, sim.
  • Consideraste uma rapariga com inteligência acima da média, ou tudo o que tens conseguido devesse ao fruto do teu trabalho e empenho? Eu não acho que seja uma rapariga inteligente mas acho que também não sou burrinha, mas sou aplicada e gosto de estudar.
  • Quais os teus passatempos favoritos? Os meus passatempos favoritos são ouvir musica, ler, ver televisão, gosto de escrever quando estou inspirada e estar com a família e amigos. Também gosto de passear e conhecer novas terras
  • Um dia a tua mãe disse-te que iriam morar noutro país. O que pensaste? Na altura não tinha bem noção do que era ir morar para outro país por isso estava um pouco confusa. Que dúvidas tiveste? Não tive dúvidas porque não conseguia imaginar não sabia a gravidade que era para ter duvidas porque nunca me tinha acontecido tal coisa. Que emoções sentiste? Muita coisa, senti-me muito confusa e não sabia que fazer, eu sentia-me incerta e as coisas estavam incertas.
  • E quando a tua mãe te disse que ela iria primeiro e depois te viria buscar a ti e à tua irmã, o que sentiste? Senti que a minha mãe ia fazer o que estava a dizer uma vez que temos uma relação muito próxima. E ela não nos iria deixar porque o que ela estava a fazer era também a pensar no nosso futuro quando crescermos.
  • Em algum momento tiveste medo? Sim. No primeiro dia que ela partiu. Sentia-me muito  sozinha e sem o suporte que ela me dava, sem os seus conselhos e avisos. Tinha medo que a nossa relação mudasse para sempre.
  • Era claro para ti que ela te iria buscar?  Sim, sem dúvidas. Sonhavas com esse dia? Sonhei que me iria encontrar com a minha mãe, e daríamos um grande abraço, que ela iria agarrar-me e nunca mais me largar.
  • Como descreves a tua mãe? A minha mãe é aventureira, sonhadora, amiga, teimosa, é a  minha confidente. Ela é, ás vezes, misteriosa.
  • Em algum momento quiseste ficar em Portugal? Sim. Nos dois últimos dias antes de vir para Inglaterra. Eu ouvia os meus amigos a falar de planos e coisas para o próximo ano, eu também queria participar mas não podia porque iria partir noutra aventura.
  • Como foi a partida para Inglaterra? Foi calma, tudo normal eu pensava que ia andar agitada mas estive muito calma.  O que esperavas encontrar? Esperava encontrar a minha mãe e frio.
  • Como viste e sentiste o teu primeiro dia em Inglaterra? O meu primeiro dia foi estranho,  não parava de olhar para as pessoas, as casas, a paisagem. Estava eu concentrada a admirar tudo quando olho para o lado e vejo um camião sem ninguém a conduzir, entrei quase em pânico porque o camião podia causar um acidente. Mas na verdade as pessoas conduzem cá ao contrário.
  • Ao fim de 10 meses em terras Britânicas, achas que te adaptaste a esta nova vida? Foi, ou tem sido, uma adaptação difícil? Sim. Adaptei-me melhor do que esperava. Quando iniciei a escola em Inglaterra estava com muito medo, não conhecia ninguém e era outra língua. Aos poucos fui-me integrando na escola. Os professores eram simpáticos e ajudaram muito. Hoje já tenho mais amigos.
  • Que diferenças encontraste nas meninas da tua idade inglesas em relação às portuguesas? As meninas de Inglaterra são muito mais descontraídas, mais para a brincadeira, são um pouco mais chiques. Enquanto que as meninas Portuguesas são um pouco mais stressadas porque a escola é mais exigente.
  • Na tua perspectiva achas que mudaste com a vinda para Inglaterra? Sim. Mudei a minha maneira de pensar, e estou a aprender outra cultura. Posso dar um exemplo, quando estava em Portugal se visse uma pessoa com cabelo verde era uma loucura. Aqui ver uma pessoa com o cabelo verde é normal, é uma opção dela.
  • Tens saudades de Portugal? Sim, tenho saudades da família que vive lá, do tempo ameno, do cheirinho do mar.
  • Conhecendo agora as duas realidades distintas onde te sentes mais feliz?Sinto-me mais feliz onde estou, em Inglaterra. Porquê?Não sei bem explicar, eu amo este pais e acho que um iman me atrai aqui e não me apetece mudar, sinto-me bem. Não consigo explicar, talvez porque vejo uma luz lá ao fundo. Sinto que aqui é melhor para mim.
  • O que dirias a uma menina portuguesa que estivesse de malas feitas para vir para Inglaterra? Diria "Vai e não tenhas medo. Viver noutro país não é tão difícil como parece."
  • O que achas que te reserva o futuro? O futuro reserva-me muitos desafios e coisas novas. Sei que vou aprender muito. Mas respondendo mais à pergunta o meu futuro ainda é incerto.
  • Descreve o que, para ti, seria um dia perfeito. Seria ir ao Algarve, à praia, enterrar-me na areia tal como fiz quando era pequena e divirtir-me à grande com a minha família.
Às vezes achamos que os nossos filhos vão sofrer com uma mudança tão grande nas suas vidas. Que vão ficar traumatizados ou frustrados. A verdade é que quanto mais crescidos somos mais difícil é para nós mudar-nos e desapegarmo-nos das coisas qua achamos ter como garantidas. Os mais novos adaptam-se muito melhor que nós a uma nova realidade e aprendem a viver nela com uma facilidade inspiradora. Somos nós, os adultos, que sobredimensionamos as emoções, a dor, a saudade, a tristeza, a necessidade. Eles acabam por viver com a nova realidade e a encontrarem, com grande facilidade, a parte positiva da mudança centrando as suas energias apenas nela.