quinta-feira, 13 de junho de 2013

Entrevista com...

Esta é a nossa primeira entrevista aqui no Código Postal Internacional. Mensalmente iremos trazer aqui ao blogue a experiência de quem decidiu um dia deixar o seu país rumo a uma nova aventura. Os motivos serão variados, as dificuldades serão vividas de maneiras diferentes, os sucessos distintos, (...) tudo ingredientes que darão sempre entrevistas/histórias únicas que vale a pena conhecer.

Hoje trazemos até ao CPI a experiência da Inês Leal da Silva Esteves de 33 anos de idade, casada, sem filhos e emigrada no Reino Unido desde 2012.


O que te motivou a emigrar?
A instabilidade económica do meu país, o desemprego e o futuro não promissor fez-nos tomar a decisão de sair. O meu marido – Rúben - veio primeiro em Fevereiro e eu vim três meses mais tarde.

Porquê a escolha de Inglaterra?
Não sei se Inglaterra terá sido a escolha mais acertada, mas foi com toda a certeza e no meio da nossa instabilidade a escolha mais segura. A minha irmã vive neste mesmo país há 8 anos e sabíamos que numa primeira fase teríamos com ela o chamado “cama, mesa e roupa lavada”. Durante esse período o Rúben teve maioritariamente de se preocupar com a questão de arranjar trabalho e arrendar um quarto para que eu pudesse vir de Portugal. Inicialmente morámos em Dagenham* numa casa partilhada mas agora e passado um ano estamos só os dois num flat* em East Ham*.

* Dagenham e East Ham são ambas localidades em Londres.
   flat - apartamento

Como foi o teu princípio?
O meu princípio, como todos os princípios, foi dificil. Casa partilhada com mais 6 pessoas, todos de cultura e etnias diferentes e o estado da casa era de constante sujidade. O Rúben trabalhava quase 24h por dia e eu isolava-me no quarto. A minha irmã morava a alguma distância de nós e por isso nunca se porporcionou estarmos juntas. Eu andava à procura de trabalho – mas sempre sem sucesso e/ou resposta. Houve uma altura em que o meu “panorama geral” esteve bem negro, mas felizmente tive uma luz (ou duas) ao final do túnel: a Cris e Dom - um casal português amigo. Durante os meus primeiros meses neste país foram eles o meu apoio e a minha companhia.

Qual foi o sentimento dos primeiros dias / meses?
Solidão, saudade, tristeza e revolta.

Que aspectos (positivos e negativos) recordas aquando da mudança?
Sou e sempre serei menina dos papás, portanto para mim o grande aspecto negativo da minha mudança foi ter de os deixar. Fui também obrigada a deixar os meus três gatos, a deixar a casa onde vivia, a vender o carro e abandonar os meus amigos. Toda a minha vida conforme eu a conhecia acabou durante aquela minha semana de mudança. Honestamente, o único aspecto positivo foi rever o meu marido!

O que aqui conquistaste corresponde às expectativas que trazias? Em que sentido?
Seria hipócrita se dissesse que sim. Quando mudamos de país vimos com os nossos sonhos tão altos, com as nossas ambições tão altas que nem nos apercebemos que falta, às coisas que imaginamos e que acreditamos, aquilo que conhecemos como realidade. É bom sonhar alto mas é também bom ser realista… Apesar destas nossas “ambições” que se tornaram difíceis de realizar, posso dizer que tivemos sucesso em conquistar algumas coisas: ambos temos trabalho e casa e nesta altura os gatinhos já se encontram connosco. Não foram de todo as nossas expectativas, mas em um ano é excepcional já termos atingido isso!

Avalia de 0 a 10 (sendo 10 a nota mais positiva) a tua experiência de forma geral.
Acho que vou dar um 7…com tendência a subir com o tempo.

De que sentes mais falta?
Da família, dos amigos e da comida.

De que forma matas a saudade de Portugal?
Sempre que posso lá vou às lojas portuguesas que temos espalhadas por Londres. Mato saudades da bica e do pastel de nata e acabo sempre por trazer três ou quatro produtos de mercearia a que estava habituada a ter e que aqui não existe nos supermercados comuns. A familia também vai enviando coisas portanto essas saudades “fisicas e perecíveis” vão sendo de fácil matança. As outras saudades, a da familia e dos amigos, sempre que podemos usamos e abusamos das novas tecnologias (telefone, messenger, skype, Facetime…etc)… em último recurso, avião… e aí vamos nós!

Achas-te, como emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Divulgo mas não sinto isso como uma responsabilidade. Na minha opinião, emigrante ou não emigrante, esta divulgação é uma coisa que nos sai naturalmente – ou não fossemos nós um dos povos mais hospitaleiros do mundo. Gosto muito de Portugal, temos um clima fantástico, uma gastronomia deliciosa e espaços culturais que nem nós portugueses sabemos explorar (ou não queremos). Somos um país riquíssimo! E acho que todos o devem saber.

Recordando os primeiros tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado que queiras partilhar?
Devem existir diversos episódios engraçados, mas o que é certo é que de momento não me recordo de nenhum…

Farias tudo de novo ou o que mudarias?
A vida é cheia de experiências e estamos constantemente a aprender com as nossas escolhas e decisões, portanto: sim, acho que me mudaria outra vez para Inglaterra e faria tudo de novo.

Voltarias a viver em Portugal?
Talvez na nossa reforma - não me importaria de a gozar num monte alentejano.

Onde e como te vês daqui a uns 15 ou 20 anos?
Daqui a 15 ou 20 anos estarei com certeza bem feliz com o Rúben a gozar e a aproveitar tudo aquilo que conseguímos criar e lutar por. Teremos os dois uma vida profissional que nos realiza, uma bela casa com jardim, um carro e pelo menos dois filhos teenagers. Passaremos todos juntos e felizes boas férias em Portugal, mas voltaremos contentes ao país que nos recebeu, aceitou e ofereceu a estabilidade que tanto procurámos.

O que recomendarias a alguém que quisesse emigrar?
Se de facto aquilo que desejam é sair, é mudar – sigam o que sentem! É preciso, no entanto ter consciência de todos os passos que vão dar e preparar minimamente o vosso futuro num país diferente. Contar com todos os obstáculos que vão encontrar e com todos os outros que estão “escondidos”. Na minha opinião, se já existir uma oferta de trabalho antes da mudança de país, o futuro próximo será 50% mais fácil. Depois quando chegarem, vivam um dia de cada vez e não sofram por antecipação… Sorriam, andem para a frente porque ninguém sabe o dia de amanhã e que surpresas nos estão reservadas!

Obrigada pela partilha!
Código Postal Internacional - BLOG