Esta é a nossa primeira entrevista aqui no Código Postal Internacional. Mensalmente iremos trazer aqui ao blogue a experiência de quem decidiu um dia deixar o seu país rumo a uma nova aventura. Os motivos serão variados, as dificuldades serão vividas de maneiras diferentes, os sucessos distintos, (...) tudo ingredientes que darão sempre entrevistas/histórias únicas que vale a pena conhecer.
Hoje trazemos até ao CPI a experiência da Inês Leal da Silva Esteves de 33 anos de idade, casada, sem filhos e emigrada no Reino Unido desde 2012.
O que te motivou a
emigrar?
A instabilidade
económica do meu país, o desemprego e o futuro não promissor
fez-nos tomar a decisão de sair. O meu marido – Rúben - veio
primeiro em Fevereiro e eu vim três meses mais tarde.
Porquê a escolha
de Inglaterra?
Não sei se Inglaterra
terá sido a escolha mais acertada, mas foi com toda a certeza e no
meio da nossa instabilidade a escolha mais segura. A minha irmã vive
neste mesmo país há 8 anos e sabíamos que numa primeira fase
teríamos com ela o chamado “cama, mesa e roupa lavada”. Durante
esse período o Rúben teve maioritariamente de se preocupar com a
questão de arranjar trabalho e arrendar um quarto para que eu
pudesse vir de Portugal. Inicialmente morámos em Dagenham* numa casa
partilhada mas agora e passado um ano estamos só os dois num flat* em
East Ham*.
* Dagenham e East Ham
são ambas localidades em Londres.
flat - apartamento
flat - apartamento
Como foi o teu
princípio?
O meu princípio, como
todos os princípios, foi dificil. Casa partilhada com mais 6
pessoas, todos de cultura e etnias diferentes e o estado da casa era
de constante sujidade. O Rúben trabalhava quase 24h por dia e eu
isolava-me no quarto. A minha irmã morava a alguma distância de nós
e por isso nunca se porporcionou estarmos juntas. Eu andava à
procura de trabalho – mas sempre sem sucesso e/ou resposta. Houve
uma altura em que o meu “panorama geral” esteve bem negro, mas
felizmente tive uma luz (ou duas) ao final do túnel: a Cris e Dom -
um casal português amigo. Durante os meus primeiros meses neste país
foram eles o meu apoio e a minha companhia.
Qual foi o
sentimento dos primeiros dias / meses?
Solidão, saudade,
tristeza e revolta.
Que aspectos
(positivos e negativos) recordas aquando da mudança?
Sou e sempre serei
menina dos papás, portanto para mim o grande aspecto negativo da
minha mudança foi ter de os deixar. Fui também obrigada a deixar os
meus três gatos, a deixar a casa onde vivia, a vender o carro e
abandonar os meus amigos. Toda a minha vida conforme eu a conhecia
acabou durante aquela minha semana de mudança. Honestamente, o único
aspecto positivo foi rever o meu marido!
O que aqui
conquistaste corresponde às expectativas que trazias? Em que
sentido?
Seria hipócrita se
dissesse que sim. Quando mudamos de país vimos com os nossos sonhos
tão altos, com as nossas ambições tão altas que nem nos
apercebemos que falta, às coisas que imaginamos e que acreditamos,
aquilo que conhecemos como realidade. É bom sonhar alto mas é
também bom ser realista… Apesar destas nossas “ambições” que
se tornaram difíceis de realizar, posso dizer que tivemos sucesso em
conquistar algumas coisas: ambos temos trabalho e casa e nesta altura
os gatinhos já se encontram connosco. Não foram de todo as nossas
expectativas, mas em um ano é excepcional já termos atingido isso!
Avalia de 0 a 10
(sendo 10 a nota mais positiva) a tua experiência de forma geral.
Acho que vou dar um
7…com tendência a subir com o tempo.
De que sentes mais
falta?
Da família, dos amigos
e da comida.
De que forma matas
a saudade de Portugal?
Sempre que posso lá
vou às lojas portuguesas que temos espalhadas por Londres. Mato
saudades da bica e do pastel de nata e acabo sempre por trazer três
ou quatro produtos de mercearia a que estava habituada a ter e que
aqui não existe nos supermercados comuns. A familia também vai
enviando coisas portanto essas saudades “fisicas e perecíveis”
vão sendo de fácil matança. As outras saudades, a da familia e dos
amigos, sempre que podemos usamos e abusamos das novas tecnologias
(telefone, messenger, skype, Facetime…etc)… em último recurso,
avião… e aí vamos nós!
Achas-te, como
emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Divulgo mas não sinto
isso como uma responsabilidade. Na minha opinião, emigrante ou não
emigrante, esta divulgação é uma coisa que nos sai naturalmente –
ou não fossemos nós um dos povos mais hospitaleiros do mundo. Gosto
muito de Portugal, temos um clima fantástico, uma gastronomia
deliciosa e espaços culturais que nem nós portugueses sabemos
explorar (ou não queremos). Somos um país riquíssimo! E acho que
todos o devem saber.
Recordando os
primeiros tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado
que queiras partilhar?
Devem existir diversos
episódios engraçados, mas o que é certo é que de momento não me
recordo de nenhum…
Farias tudo de
novo ou o que mudarias?
A vida é cheia de
experiências e estamos constantemente a aprender com as nossas
escolhas e decisões, portanto: sim, acho que me mudaria outra vez
para Inglaterra e faria tudo de novo.
Voltarias a viver
em Portugal?
Talvez na nossa reforma
- não me importaria de a gozar num monte alentejano.
Onde e como te vês
daqui a uns 15 ou 20 anos?
Daqui a 15 ou 20 anos
estarei com certeza bem feliz com o Rúben a gozar e a aproveitar
tudo aquilo que conseguímos criar e lutar por. Teremos os dois uma
vida profissional que nos realiza, uma bela casa com jardim, um carro
e pelo menos dois filhos teenagers. Passaremos todos juntos e felizes
boas férias em Portugal, mas voltaremos contentes ao país que nos
recebeu, aceitou e ofereceu a estabilidade que tanto procurámos.
O que
recomendarias a alguém que quisesse emigrar?
Se de facto aquilo que
desejam é sair, é mudar – sigam o que sentem! É preciso, no
entanto ter consciência de todos os passos que vão dar e preparar
minimamente o vosso futuro num país diferente. Contar com todos os
obstáculos que vão encontrar e com todos os outros que estão
“escondidos”. Na minha opinião, se já existir uma oferta de
trabalho antes da mudança de país, o futuro próximo será 50% mais
fácil. Depois quando chegarem, vivam um dia de cada vez e não
sofram por antecipação… Sorriam, andem para a frente porque
ninguém sabe o dia de amanhã e que surpresas nos estão reservadas!
Obrigada pela partilha!
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