quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Em Entrevista


A entrevistada de hoje é a Rute de 35 anos, casada e com um filhote de 8 anos. Está no Reino Unido desde meados de Janeiro de 2013 e já conquistou o seu espacinho por estas bandas.


O que te motivou a emigrar?
Há quem diga que nasceu no corpo errado, eu sabia que tinha nascido no país errado! De qualquer forma o momento da verdade foi a declaração das finanças atestando que ganhava cerca de 65€/mês (Professora de Atividades de Enriquecimento Curricular).
Mas não foi o único motivo, andava a torturar-me desde que o meu filho entrou para a escola primária! Pensava todos os dias em ensino doméstico porque achava que a escola estava toda errada para ele!

Porquê a escolha do Reino Unido, particularmente Gravesend?
O Reino Unido porque proibiu os corantes e aromas artificiais na comida! Porque falo inglês! Porque nas escolas o ensino é socio-construtivista e há por norma mais do que um adulto por sala! Porque há uma cultura de incentivo à infância! E, claro, porque me pareceu que ainda havia emprego.
Gravesend porque tinha uma amiga aqui. Ponderei Londres por causa do apoio da Britbound, mas acabei por escolher ter um ponto de apoio mais familiar. Estou muito feliz com a escolha! Fica perto de tudo e ainda assim tem um ambiente semi-rural LOL ;)

Como foi o teu princípio?
Tinha a amiga, é verdade, que foi ótimo nos primeiros dias, mas, ela tem a vida dela e eu tinha a minha nova vida para construir! Ela ajudou a encontrar um quarto numa casa partilhada e num jantar de amigos acabou por saber de uma vaga no Bluewater que acabou por ser o meu 1º emprego!
Foi tudo fantástico! Acho que tive muita sorte!
A maior dificuldade foi estar longe do meu filho por 3 meses, mas ele foi fantástico e nunca chorou!

* Bluewater - centro comercial localizado no county de Kent

Qual foi o sentimento dos primeiros dias / meses?
Era um misto de insegurança, felicidade, saudades do filhote! Mas acho que me adaptei muito bem!
Estava a nevar, lembro-me de ficar horas a olhar para a neve e de ficar triste porque o meu miúdo ia adorar brincar com a neve. Por isso sim, as saudades, a tristeza de não estar a partilhar a experiência com o filhote foram os sentimentos dominantes.

Que aspetos positivos/ negativos recordas aquando da mudança?
Negativo: o pior foi estar longe do filhote…
Positivo: tudo o resto foi positivo.

O que aqui conquistaste corresponde às expectativas que trazias? Em que sentido?
Corresponde e excede as expectativas! Tenho trabalho! A minha formação e experiência pessoal são reconhecidas! O meu filho está a integrar-se muito bem e adora a escola (o que não acontecia em Portugal)!
Como diz o anúncio: “Aqui vou ser feliz!”

Avalia de 0 a 10 (sendo 10 nota máxima positiva) a tua experiência de forma geral.
10

De que mais sentes falta?
Do filhote, como já disse. Mas agora que ele está cá … sinto falta do peixe e de vinho para cozinhar. Sinto falta da minha máquina de fazer pão, da minha cozinha no geral … mas lá chegarei

De que forma matas a saudade de Portugal?
Eu confesso que não tenho saudades…

Achas-te, como emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Não. Mas eu não me considero emigrante no sentido de ser um português fora do seu país. Eu considero-me uma cidadã europeia que mudou de país, quero conhecer e abraçar a cultura do país que me acolheu e me tem tratado tão bem.

Recordando os primeiros tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado que queiras partilhar?
Em termos culturais… toquei, de forma meiga, no braço de uma criança que tinha mergulhado a mão num pote de doces na loja onde trabalhava e percebi, pelos gritos da mãe, que tinha feito algo de muito grave. Por aqui ninguém deve, em circunstância alguma, tocar numa criança… infelizmente a solução das colegas nativas era gritar com a criança ou fechar o pote entalando a mão da criança … honestamente, a criança não se assustou com a minha intervenção, porque foi meiga e nada brusca e completamente adequada à idade… mas agora já sei: Nunca tocar numa criança!
Na língua… embora domine o inglês, na minha primeira ida a Londres tinha de comprar o bilhete de comboio e as opções eram “single” e “return”. Ora eu era só uma, queria, sem duvida, um “single” e como não encontrava uma opção “single & return” achei que podia comprar o “return” no regresso (sim, eu nasci loira) e acabei por gastar o dobro do que precisava… afinal “return” implica a viagem de ida também e custa apenas mais uns “pence”: Lesson learned!

Farias tudo de novo ou o que mudarias?
Fazia tudo novamente!

Voltarias a viver em Portugal?
Não!

Onde e como te vês daqui a uns 15 ou 20 anos?
O plano é ficar por aqui até o miúdo ir para a universidade. Depois ele pode escolher o país onde quer estudar e eu mudo novamente. Gosto da Alemanha, da Dinamarca… desta vez gostava de aprender um novo idioma.
E depois, meio a sério meio a brincar, digo que ao miúdo vou dar asas para voar para onde ele quiser… eu… vou reformar-me e comprar um barco e uma casa nas Caraíbas, passear turistas e literalmente dormir à sombra da bananeira… e como o destino é interessante pode ser que o miúdo lá passe férias! LOL

O que recomendarias a alguém que quisesse emigrar?
Coragem. Todas as mudanças são assustadoras e como todos os medos a única coisa que temos de fazer é parar e pensar se é seguro avançar. E, normalmente, é! Na pior das hipóteses são apenas mais umas férias…
Claro que ajuda ter o suporte financeiro e emocional dos amigos e da família. E depois fazer da internet a nossa melhor companheira e nunca parar de pesquisar mais e mais sobre o que podemos fazer para atingir objetivos… e perguntar, claro, porque perguntar não ofende ninguém!

Obrigada pela partilha Rute! Se o teu filho não aceitar as férias nas Caraíbas podes sempre contar connosco! Nós agradecemos ;)

Background photo | Foto de fundo por: Only Deco Love