sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

E já lá vão 5 anos ...


Faz hoje precisamente 5 anos que viémos viver na Inglaterra ... mas antes disso, deixem-me contar como foi o antes de ... fazia 6 meses que o meu marido estava a viver na Inglaterra e eu estava a trabalhar a tempo inteiro e com duas crianças e um cão. Era um cão de casa e por isso, equivalente a um terceiro filho, a quem eu tinha que passear no minimo 2 vezes por dia.
Corria tudo bem quando não era altura de cio das cadelas, aí era a loucura total. O que queria era ir para a rua, atrás do rasto e às vezes andava desaparecido horas, perdia sempre o apetite e emagrecia. Mas lembro-me de uma semana em particular, nunca o tinha visto assim, chorava durante a noite, pedia-me que lhe abrisse a porta da rua, não só não me deixava dormir como temia que acordasse as crianças. Como passei umas quantas noites sem dormir o necessário, comecei a ter enxaquecas, já sem recursos, pedi ao veterinário que me receitasse alguma coisa para o 4 patas para que ele acalmasse. Nesse mesmo dia, e sem a dita medicação, ficou tudo mais calmo, pude finalmente respirar de alivio e dormir uma noite completa.

Os míudos com 4 e 8 anos, precisavam ainda de quem lhes desse banho e fizesse jantar, organizar roupas, trabalhos de casa e tudo o resto inerente à organização de uma família e casa. Isto para dizer, que pouco tempo tinha para pensar que estava tudo ao meu cargo e nem assim cruzei os braços.
Importante era mesmo manter a rotina, pois assim o tempo passava mais depressa e os míudos não sentiam tanto a ausência do pai. Era sempre uma luta para conseguir ter tempo para estar em frente ao pc a determinadas horas para falar com a cara metade pelo skype. Naturalmente também ele queria falar com os meninos e com escola no dia seguinte, as conversas eram curtas. Nada fácil para quem está longe nem para quem ficou. Mas o que é certo, é que se iam alimentando sonhos e o tempo ia passando.
O dia começava bem cedo, a passear o cão na rua, depois os pequenos-almoços aos meninos e depois a deixar um deles em casa dos meus pais e outro na creche, depois um trajecto de 1 hora na IC19. Depois seguiam-se 8 horas de trabalho (minimo), com interrupção na hora de almoço para correr ao supermercado ou ao banco tratar de algum assunto. Ao final do dia, era outra correria, buscar os dois aos avós, seguia-se novo passeio do 4 patas, banho e jantar. Meninos na cama e mais um último passeio do 4 patas. Seguiam-se alguns telefonemas com a família e amigos, algumas tarefas da casa e finalmente tempo para estar ao pc. Uff ... todos os dias uma correria.

O futuro ia sendo desenhado através de pesquisas no pc e em conversas com a cara metade, mesmo por Skype. Recordo-me da procura pelo apartamento certo, tentavamos visualizar o mesmo apartamento e discutir as condições de aluguer, um de um lado do pc e o outro do outro lado a 2200 km de distância. O mesmo se passou em relação à escola dos míudos e planeamento de viagens.

Era chegada a véspera do grande acontecimento, mas antes havia ainda lugar a um jantar de natal com os colegas de empresa. O meu último dia de trabalho, que foi tudo menos calmo, o tempo voou e quando dei conta estava na hora de fechar o pc e retirar os bens pessoais. Já o pessoal estava a anunciar as suas saídas para o restaurante escolhido pela Administração e eu ainda a tentar refletir se nao havia deixado algo para trás. O jantar correu às mil maravilhas, o ambiente estava deveras acolhedor e animado.O fim da noite fez também anunciar a hora de despedida e eu só queria parar e saborear aquele momento. Ouvi mensagens muito calorosas dos patrões, colegas e amigos, daqueles que pensamos às vezes que passamos indiferentes e afinal têm muito carinho por nós. O meu coração estava derretido! Não queria despedir-me nem acabar com aquele momento. Foi muito bom! Fui muito feliz neste emprego, os colegas eram excepcionais.
O meu coração estava dividido, já cheia de saudades pelos que ia deixar para trás e espectante pelo que se iria seguir nas próximas horas.
No dia seguinte, era dia de ir ao aeroporto de Lisboa buscar a cara metade que já não via há 3 meses. Os míudos excitadíssimos, não havia quem os sossega-se, na verdade também eu estava com borboletas na barriga, as mesmas que há 14 anos me visitavam quando ainda namoravamos. Esta é mesmo a parte boa de 2 pessoas que vivem com distância. Sim,  O reencontro foi vivido com muita emoção e carinho. Sim, é mesmo possível ter um relacionamento à distância quando é alimentado.
O Natal passou e o dia 27 chegou! Os poucos detalhes de que me lembro, foi ter malas abertas e andar perdida a tentar enfiar mais isto e aquilo que me podia fazer falta, já que nem saberia quando estaria de volta a minha casa. Houve tempo ainda de uma grande amiga aparecer lá em casa e se despedir. O dia passou rápido e as despedidas sucederam-se em casa de familiares. Ficou o sentimento de que iriam sentir muito a nossa falta, e que estavam a torcer por nós. Lembro-me que o dia estava muito feio, muito vento, escuro e com chuva violenta. Houve momentos de dor física, de sentir um nó na garganta e de não querer prolongar algumas despedidas de tão doloroso que estavam a ser.
Lembro-me de a viagem ser rápida e chegarmos a Londres já no fim da noite. Estavam 2º e não parecia ser tão mau assim. Estavamos todos espectantes por uma vida nova, por esta nova aventura que ninguém sabia ao certo que destino havia de ter.
Hoje, passados 5 anos, só nos arrependemos de não termos vindo mais cedo. Adoro o meu país e tentamos ir lá 1 a 2 vezes por ano, mas não me vejo a viver lá de novo, pelo menos num futuro tão próximo. Gostamos muito de aqui estar. Os piores momentos são quando temos alguém doente e pouco podemos fazer para ajudar, é um sentimento de impotência, mas a vida não é perfeita e há que ser positiva e ver o lado bom das situações. Quero deixar aqui uma mensagem de esperança para quem como eu também deseja mudar de vida. Sou filha única e muito agarrada aos meus pais, na altura não foi fácil, mas hoje acredito que cresci muito e Portugal tem agora um espaço mais especial no meu coração. Tenho muito orgulho de ser portuguesa e tento manter esse sentimento entre os meus. Lembrem-se se há alguém que pode mudar a vossa vida, são vocês mesmos! Como se diz na giria portuguesa, o caminho é para a frente. Lancem-se sem medos!