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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

E já lá vão 5 anos ...


Faz hoje precisamente 5 anos que viémos viver na Inglaterra ... mas antes disso, deixem-me contar como foi o antes de ... fazia 6 meses que o meu marido estava a viver na Inglaterra e eu estava a trabalhar a tempo inteiro e com duas crianças e um cão. Era um cão de casa e por isso, equivalente a um terceiro filho, a quem eu tinha que passear no minimo 2 vezes por dia.
Corria tudo bem quando não era altura de cio das cadelas, aí era a loucura total. O que queria era ir para a rua, atrás do rasto e às vezes andava desaparecido horas, perdia sempre o apetite e emagrecia. Mas lembro-me de uma semana em particular, nunca o tinha visto assim, chorava durante a noite, pedia-me que lhe abrisse a porta da rua, não só não me deixava dormir como temia que acordasse as crianças. Como passei umas quantas noites sem dormir o necessário, comecei a ter enxaquecas, já sem recursos, pedi ao veterinário que me receitasse alguma coisa para o 4 patas para que ele acalmasse. Nesse mesmo dia, e sem a dita medicação, ficou tudo mais calmo, pude finalmente respirar de alivio e dormir uma noite completa.

Os míudos com 4 e 8 anos, precisavam ainda de quem lhes desse banho e fizesse jantar, organizar roupas, trabalhos de casa e tudo o resto inerente à organização de uma família e casa. Isto para dizer, que pouco tempo tinha para pensar que estava tudo ao meu cargo e nem assim cruzei os braços.
Importante era mesmo manter a rotina, pois assim o tempo passava mais depressa e os míudos não sentiam tanto a ausência do pai. Era sempre uma luta para conseguir ter tempo para estar em frente ao pc a determinadas horas para falar com a cara metade pelo skype. Naturalmente também ele queria falar com os meninos e com escola no dia seguinte, as conversas eram curtas. Nada fácil para quem está longe nem para quem ficou. Mas o que é certo, é que se iam alimentando sonhos e o tempo ia passando.
O dia começava bem cedo, a passear o cão na rua, depois os pequenos-almoços aos meninos e depois a deixar um deles em casa dos meus pais e outro na creche, depois um trajecto de 1 hora na IC19. Depois seguiam-se 8 horas de trabalho (minimo), com interrupção na hora de almoço para correr ao supermercado ou ao banco tratar de algum assunto. Ao final do dia, era outra correria, buscar os dois aos avós, seguia-se novo passeio do 4 patas, banho e jantar. Meninos na cama e mais um último passeio do 4 patas. Seguiam-se alguns telefonemas com a família e amigos, algumas tarefas da casa e finalmente tempo para estar ao pc. Uff ... todos os dias uma correria.

O futuro ia sendo desenhado através de pesquisas no pc e em conversas com a cara metade, mesmo por Skype. Recordo-me da procura pelo apartamento certo, tentavamos visualizar o mesmo apartamento e discutir as condições de aluguer, um de um lado do pc e o outro do outro lado a 2200 km de distância. O mesmo se passou em relação à escola dos míudos e planeamento de viagens.

Era chegada a véspera do grande acontecimento, mas antes havia ainda lugar a um jantar de natal com os colegas de empresa. O meu último dia de trabalho, que foi tudo menos calmo, o tempo voou e quando dei conta estava na hora de fechar o pc e retirar os bens pessoais. Já o pessoal estava a anunciar as suas saídas para o restaurante escolhido pela Administração e eu ainda a tentar refletir se nao havia deixado algo para trás. O jantar correu às mil maravilhas, o ambiente estava deveras acolhedor e animado.O fim da noite fez também anunciar a hora de despedida e eu só queria parar e saborear aquele momento. Ouvi mensagens muito calorosas dos patrões, colegas e amigos, daqueles que pensamos às vezes que passamos indiferentes e afinal têm muito carinho por nós. O meu coração estava derretido! Não queria despedir-me nem acabar com aquele momento. Foi muito bom! Fui muito feliz neste emprego, os colegas eram excepcionais.
O meu coração estava dividido, já cheia de saudades pelos que ia deixar para trás e espectante pelo que se iria seguir nas próximas horas.
No dia seguinte, era dia de ir ao aeroporto de Lisboa buscar a cara metade que já não via há 3 meses. Os míudos excitadíssimos, não havia quem os sossega-se, na verdade também eu estava com borboletas na barriga, as mesmas que há 14 anos me visitavam quando ainda namoravamos. Esta é mesmo a parte boa de 2 pessoas que vivem com distância. Sim,  O reencontro foi vivido com muita emoção e carinho. Sim, é mesmo possível ter um relacionamento à distância quando é alimentado.
O Natal passou e o dia 27 chegou! Os poucos detalhes de que me lembro, foi ter malas abertas e andar perdida a tentar enfiar mais isto e aquilo que me podia fazer falta, já que nem saberia quando estaria de volta a minha casa. Houve tempo ainda de uma grande amiga aparecer lá em casa e se despedir. O dia passou rápido e as despedidas sucederam-se em casa de familiares. Ficou o sentimento de que iriam sentir muito a nossa falta, e que estavam a torcer por nós. Lembro-me que o dia estava muito feio, muito vento, escuro e com chuva violenta. Houve momentos de dor física, de sentir um nó na garganta e de não querer prolongar algumas despedidas de tão doloroso que estavam a ser.
Lembro-me de a viagem ser rápida e chegarmos a Londres já no fim da noite. Estavam 2º e não parecia ser tão mau assim. Estavamos todos espectantes por uma vida nova, por esta nova aventura que ninguém sabia ao certo que destino havia de ter.
Hoje, passados 5 anos, só nos arrependemos de não termos vindo mais cedo. Adoro o meu país e tentamos ir lá 1 a 2 vezes por ano, mas não me vejo a viver lá de novo, pelo menos num futuro tão próximo. Gostamos muito de aqui estar. Os piores momentos são quando temos alguém doente e pouco podemos fazer para ajudar, é um sentimento de impotência, mas a vida não é perfeita e há que ser positiva e ver o lado bom das situações. Quero deixar aqui uma mensagem de esperança para quem como eu também deseja mudar de vida. Sou filha única e muito agarrada aos meus pais, na altura não foi fácil, mas hoje acredito que cresci muito e Portugal tem agora um espaço mais especial no meu coração. Tenho muito orgulho de ser portuguesa e tento manter esse sentimento entre os meus. Lembrem-se se há alguém que pode mudar a vossa vida, são vocês mesmos! Como se diz na giria portuguesa, o caminho é para a frente. Lancem-se sem medos!

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O meu doce Natal...

Dia 25 de Dezembro, dez e meia da manhã, FELIZ NATAL!!!!

Há uns 30 anos atrás a esta hora já a cozinha da minha avó tinha o chão coberto de papel de embrulho rasgado. Já eu tinha pulado para cima do meu irmão morta para que acordasse porque não queria abrir as prendas sózinha. Já eu tinha feito as honras de pai Natal e distribuido as prendas que o verdadeiro homem das barbas brancas tinha deixado em cada um dos sapatinhos deixados por baixo da chaminé, na noite anterior. Já eu vestia a roupa nova e brincava com os recém chegados sonhos que tinha pedido no meu mais intimo desejo.
Foram assim os meus primeiros Natais e aqueles que mais saudades deixaram. Depois, a minha bisavó fechou os olhos para sempre e a magia perdeu-se um pouco. Mais tarde, o meu avô teve problemas de saúde e, o sol que brilhava todos os Natais, deixou de ser tão quente e os Natais passaram da casa dos avós para a casa dos pais. Já não havia chaminé e não me parece que o pai Natal entrasse pela porta do prédio.


Mas voltando atrás... no primeiro fim-de-semana de inicio das férias escolares lá ía eu passar quinze dias para casa dos meus avós maternos. A árvore de Natal esperava por mim na despensa para ser montada, assim como as figurinhas do presépio. Era assim que passava a semana que antecedia o Natal. Comprando os presentes que queria dar, nas lojinhas que haviam por baixo da casa dos meus avós. Não me esquecia de ninguém, fosse o que fosse, todos tinham uma lembrança minha, mesmo o meu irmão que nunca me dava nada... nesse aspecto, 30 anos depois e pouco mudou... Fazia a árvore de Natal com a ajuda do meu avô e era espectadora assídua na cozinha da avó. 
No dia 24 esperávamos a chegada dos meus pais e irmão que chegavam ao fim do dia queixando-se do imenso trânsito que tinham apanhado na ponte sobre o Tejo. Para minimisar a minha ansiedade eu própria punha a mesa cheia de requintes e perfeição. Na cozinha já havia tacinhas de arroz doce aqui e ali, sonhos, rabanada e o perú já estava no forno. Por fim eles chegavam encasacados e queixosos.
A refeição era feita de forma tranquila e demorada. Quando finalmente nos levantávamos da mesa já era hora de ir para a cama mas... quem é que me convencia a dormir quando a excitação era gigantesca?
A muito custo lá ia eu para o meu canto fingir que fechava os olhos mas na verdade contava carneirinhos, tentava ler... mas nada afastava o meu pensamento que já estava na manhã seguinte. A noite de 24 era passada a contar os minutos e às 7 da manhã eu já achava que tinha esperado o suficiente, mas mais ninguém parecia ter a mesma opinião que eu, o silêncio permanecia e eu revirava-me na cama numa longa e interminável espera.

Trinta anos depois, longe do meu país, a minha adoração por esta quadra festiva mantem-se. No final de Agosto de 2009 pisava eu terras Britânicas na companhia do D., nesse Dezembro já tinha a árvore de Natal montada e a mesma vontade de distribuir as prendas que tinham tomado lugar em redor dela. 
O ano passado foi o primeiro Natal em que a nossa filha mais velha (um ano e 2 meses na altura) participou de forma mais consciente. As prendas foram abertas na manhã de dia 25 e a excitação dela transportou-me para o passado, quase ouvia o riso suave do meu avô. É esta a tradição que procurarei manter, mesmo sabendo que um dia a L. e a C. farão pressão para esperar pela meia-noite porque assim fazem os colegas de escola, a mesma pressão que um dia eu fiz mas que, quando as passei a abrir à meia-noite, quebrou-se a magia e eu cresci.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Cinco desejos de Feliz Natal!

A noite mais especial do ano chegou! Para uns trará harmonia, a família reunida, o barulho alegre das crianças... para outros acredito que não passará da noite mais difícil do ano, onde a solidão se acentua e o frio arrefece até a alma.
É com estes últimos no pensamento que me sinto uma previligiada. É certo que estou longe dos meus pais e irmão. Não teremos, com certeza, a árvore carregada de prendas nem a mesa farta em iguarias Natalicias, que vão sendo "namoradas" entre conversas calorosas com entes queridos que já não se vê há meses. Mas não sinto frio, nem no corpo nem na alma. Muito menos solidão.


Nesta noite de consoada, deitam-se as filhas à hora do costume (21:00). De pijamas vestidos, põe-se a toalha na mesa, pão acabado de cozer, um queijo português, quem sabe se um chouriço assado, as azevias de grão que tanto adoro, as rabanadas acabadas de fritar, o arroz doce ainda morno, uma pequena travessa de camarões assados no forno e um jarro de sangria. Nao faltarão os crackers a dar o toque britânico à noite. Cá em casa seguimos apenas uma tradição, a nossa.
A dois, brindamos a nós e às nossas pérolas que nos vieram enriquecer a vida. Fazemos planos para o futuro próximo, partilhamos sonhos, trocamos postais renovando sentimentos por vezes diminuidos com o correr da vida... e ao fim de dois copos de sangria é chegada a hora de subir as escadas antes que as pernas pesem demais. Nesta noite, de paz e amor, não se trocam prendas... trocam-se carinhos, palavras e sentimentos.
Assim será hoje cá em casa, longe da terra que nos viu nascer e crescer mas sem solidão, tristeza ou saudade, apenas fisicamente longe.

Desejo a todos aqueles que nos têm vindo a acompanhar, conhecer e ver crescer, um Natal calmo e acolhedor na companhia de quem não vos permita sentir sós, seja em que canto do Mundo for.

Escrito por Cris

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Já lá vai o tempo que esta era uma noite agitada e repleta de animação. Uma noite em que crianças e adultos sonhavam com a magia do Natal. Noite em que um adulto se vestia de Pai Natal e entregava uma prendinha a uma das crianças da família. O Pai Natal tocava à campainha e as crianças excitadíssimas corriam pela casa. O Pai Natal apenas entregava uma prenda, essa seria a prenda solicitada por carta pela criança, sempre organizadas com a ajuda da mãe ou pai. Sim porque a última vez que nos reunimos todos (Natal 2009), eram 13 crianças e 15 adultos e toda a ajuda é pouca. Sinto falta dessas noites, mas não sendo possível este ano irmos a Portugal estar junto dos nossos, resta-me as memórias desses natais.


As crianças tinham um papel activo na noite, as mais velhas organizavam actividades com as mais novas, havia côro com músicas natalícias,  peça de natal ou poesia à mesa. Depois da meia-noite e acabados os comes e bebes, dava-se a distribuição de prendas durante uma hora ou duas.
Nesta noite, o bacalhau é sempre presença assídua na nossa mesa. Não somos apreciadores de bacalhau tradicional, pelo que costumamos fazer uma variante, bacalhau espiritual, com broa ou com natas. No entanto, como gosto de roupa velha, peço à minha mãe para cozer bacalhau com couves, para no dia 25, poder comer antes do prato de carne.
Mas voltando à temática da magia do Natal, e vivendo agora sob a influência inglesa, vejo agora alterada algumas rotinas, como por exemplo, para além de deixar o copo de leite e uma 'mince pie' para o Pai Natal, não posso esquecer de deixar também uma cenoura para a Rena que traz o Pai Natal. A minha R. de 9 anos, ainda acredita e faço questão de continuar a alimentar esta fantasia.

Por aqui espero ter uma noite bem calma na companhia da minha família mais directa, marido e filhos e também de uma amiga, também ela longe da sua família e da sua terra. Ficam por isso, os meus mais sinceros votos de uma noite santa para todos os nossos leitores e um beijinho especial para os emigrantes longe dos seus entes mais queridos.

Escrito por Carla

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Este dia de tamanha importância para mim e para os meus, este ano vai ser passado de uma maneira diferente. Com muito menos pessoas, por diversas circunstâncias, mas nunca esquecendo as nossas tradições, os nossos costumes, as nossas origens! De certo que quem faz o Natal para mim são as crianças, e este ano apenas terei na minha companhia o meu piolho, que com certeza fará a nossa alegria. É um dia que gostamos de fazer coisas em família e claro começa-mos pelos comes e bebes, falamos muito, rimo-nos imenso e pela noite dentro fazemos alguns jogos também.


Pelas 7h, começamos a preparar a mesa para a consoada, com diversas iguarias. Estando fora do nosso país de origem por vezes dificulta um pouco ter tudo o que mais gostamos nesta época à mesa, mas com o que conseguimos arranjar, muitas vezes encomendando e comprando nas lojas portuguesas em Londres, fazemos com que a diferença não se note tanto. Na nossa ementa nunca faltam o camarão cozido ou frito, o prato de bacalhau, seja ele cozido, frito, desfiado, ou assado, é presença assídua neste dia, e os doces típicos da época também, tais como as rabanadas, filhoses, azevias, molotoff e lampreia de ovos. A harmonia e o calor são evidentes. E as saudades dos entes mais queridos também. Mas não há tempo para a tristeza, pois neste dia é celebrado o renascer de uma nova luz que nos dá alento e força para continuar! Não posso esquecer de mencionar que também neste dia gostamos de vestir algo novo, na cor vermelha ou branca. Cores que significam para mim, Natal e pureza! À meia-noite, já dia 25, abrem-se os presentes e depois disso vamo-nos deitar.

Desejo a todos os que nos acompanham e nos apoiam um Santo Natal, se possível na companhia de quem mais amam!

Escrito por AnaF

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Desde que me conheço como gente, sempre me lembro de A-D-O-R-A-R o Natal… para mim é de longe a época com mais magia do ano!!!! Começo sempre a pensar no Natal super cedo, no inicio de Outubro já costumo começar a comprar os meus presentes, contudo o povo inglês supera- me e devo confessar que este ano até me aborreci, porque receber postais a desejar boas festas em Agosto é cedo demais!!!!!
Sempre tive Natais com muita gente, rodeada da família toda, no natal de 2010, o ano em que perdi o meu pai, como estava de coração vazio resolvi juntar 60 pessoas… pobre pai natal, quase nem jantou pois esteve quase a noite toda a separar os presentes para as crianças que eram mais de 20.


Contudo este ano será em tudo diferente… mas estou muito entusiasmada na mesma…. As diferenças começam logo pelo facto de que este ano pela primeira vez na minha vida estou a trabalhar no dia 24 até às 10 da noite logo, vai ser um natal dividido entre colegas de trabalho e família, mas como vejo sempre que “o copo está meio cheio e não meio vazio” estou feliz pois vou ter um triplo natal…. e isto porquê?? Porque vou ter um natal com as tradições polacas (a grande maioria dos meus colegas de trabalho são polacos), inglesas (sim, porque eu já encarnei no espirito british) e como não podia deixar de ser, portuguesas, com o pão, vinho, bacalhau e café sobre a mesa. Contudo em vez de 60 vamos passar a ser 6… enfim, mas o coração vai estar cheio e os outros 54 também vão cá estar!!!
Depois do trabalho venho a voar até casa onde vou comer as rabanadas da minha mãe primeiro que tudo, porque só assim é que começa o natal, depois vou ter que responder de 5 em cinco minutos à minha filha que já falta pouco… sentar na mesa, comer como se não houvesse amanhã, esperar que o pai natal venha (fazer a cena do costume de alguém se mascarar de pai natal mas ser sempre apanhado pelo meu filho), e por último, a cereja no topo do bolo, ver a cara deles de alegria e excitação a abrir os presentes… e uns minutos depois, quando tudo acaba, fico sempre a pensar que foi tudo tão rápido.

No fim da noite é hora de deitar fora os papeis e os cartões todos (sabendo bem que no dia seguinte vou ter que ir ao lixo e remexer tudo outra vez porque deitei fora livros de instruções, peças e acessórios, alguns microscópicos outros nem tanto dos presentes dos meninos), tomar 2 Renies, ir para a cama, dormir sentada porque comi demais e pedir muito, mas mesmo muito, ao pai natal que, antes de regressar ao polo norte, mande a fada da limpeza cá a casa e deixe tudo limpinho para o dia seguinte. Por fim, mas o mais importante de todo este meu ritual natalicio, começar a torcer para que ainda falte muitíssimo para o dia de desfazer a árvore de natal, tarefa que D-E-T-E-S-T-O!!!!

Desejo a todos um natal maravilhoso, cheio de coisas boas, com muita tranquilidade, paz de espirito e principalmente muita saúde!!!! Ho ho ho!!! Merry Christmas…

Escrito por Ana Dias

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O Natal trás consigo uma carga emotiva muito grande, além de toda a sua história com o nascimento de Jesus, transporta-nos à nossa infância e trás consigo a alegria de recordar os momentos vividos na nossa meninice. O dia começava bem cedo, e a agitação entre irmãos e primos fazia-se sentir pelo corredor de casa dos meus pais, era lá que a família se reunia pelo jantar. Onde se compunha a mesa com iguarias tradicionais, e não faltava o bacalhau, o peru assado e as filhóses que só a avó, deliciosamente, fazia. O momento mais esperado era à meia-noite quando a criançada podia abrir as prendas e, ali, reinava a alegria, a harmonia, a magia do Natal…



Este ano o Natal será, para mim, diferente, mas não menos importante.
Diferente porque pela primeira vez, vou estar fisicamente longe da minha família mas, com certeza, presente em pensamento e não menos importante, porque vou estar entre amigos de coração e por isso também bem acompanhada.
Desejo a todos um Santo Natal, repleto de muito Amor, Alegria e Esperança. Que a magia do Natal reconforte os vossos corações.


Escrito por Sandra

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Emigrar com os patudos para Inglaterra


Para mim, um animal de estimação faz parte da família. Neste caso concreto falo do meu Freddy (golden cocker spaniel), meu companheiro, na altura com 12 anos. Quando pensei emigrar NUNCA coloquei a hipótese de abandonar o meu fiel amigo.

Informei-me de imediato, do que seria necessário tratar para trazê-lo comigo. Devo dizer que a informação disponível na altura (2008) era pouca, o veterinário também não tinha a certeza de muita coisa. Só sabiam dizer que devia ser caro, que os ingleses eram muito chatos e que seria uma dor de cabeça. Enfim, o pessimismo vinha sempre ao de cima. Mas sou o tipo de pessoa que, quanto mais dizem que não sou capaz, mais força tenho para mostrar o contrário.
Com o marido emigrado na Inglaterra, foi mais fácil recolher informações.
Ficámos a saber que teriamos que colocar um chip, tirar sangue ao cão e pedir o passaporte internacional. As análises de sangue iriam provar que o cão tinha a vacina anual válida. Na altura ainda tivemos que esperar 6 meses de quarentena em Portugal. Na prática víemos primeiro e ele acabou por ficar 7 meses em casa dos meus pais. Ficou com as melhores pessoas possíveis, mas sei que ele sofria de ansiedade, ele de um lado e eu de outro. Emagreceu e andava triste, mesmo com a minha mãe a fazer-lhe arroz com cenoura e galinha, que ele tanto gostava.
Os meses foram passando e eu sentia angústia por não o ter comigo. Pedia a Deus para ele se aguentar até ao dia que eu o fosse buscar. Afligia-me o facto de ele se sentir abandonado. Lembro-me desse dia, como se fosse hoje. Eu ainda não tinha chegado a casa dos meus pais e já ia de lágrima no olho.
Quando lá chegámos, fui direitinha a ele e ele ignorou-me por completo. Estava magoado comigo e com o meu filho mais velho, eramos os mais chegados a ele. Em vez disso, fez muitas festas ao meu marido e à minha filha. Fiquei decepcionada, mas no fundo, e sabendo que eles tem sentimentos e o quanto era apegado a mim, tudo se encaixava. Olhava para mim com um olhar sisudo e de desprezo, no fundo estava a mostrar o quanto eu o tinha desiludido. O meu coração estava partido. Só ao fim de 3 dias é que ele se aproximou de boa vontade. Depois disso, foi um 31 deixá-lo outra vez.
Já na Inglaterra, sugeriram interná-lo para análise de uma situação e eu perguntei se podia ficar, como não pude ficar, expliquei que a saúde dele poderia piorar se sentisse que o estava a abandonar de novo. Eles compreenderam.

Mas o que queria mesmo deixar aqui explicito, é que a lei hoje em dia está menos exigente, já não é preciso período de quarentena. Resumindo, é colocar chip, ter vacinas em dia, tirar passaporte e na hora de viajar, é apenas preciso desparasitar. Para passar a alfândega, a toma do desparasitante tem que ter mais de 24 horas e não pode exceder as 48 horas. Já agora, um último conselho, verifiquem, antes de partir, se consta no passaporte, a data, hora e carimbo do veterinário certificado. Muito importante!! Sem estes 3 registos o animal não entra no Reino Unido.

Se pensam em emigrar, não os abandonem! Não vou dizer que é fácil, mas havendo vontade há sempre solução. Pode não se encontrar à primeira, casa que permita a entrada de animais, mas é tudo uma questão de persistência, porque conheço uma mão cheia de pessoas que trouxeram os seus bichinhos.

Link útil:
https://www.gov.uk/government/publications/bringing-pets-into-the-uk-after-1-january-2012

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Comprar carro Vs Trazer o carro de Portugal


Na minha primeira entrevista, depois de chegar a terras de sua Majestade, um dos requisitos que a empresa solicitava era ter carro próprio porque o trabalho como Support worker era ao domicílio (andar de casa em casa). A entrevista até correu bem não fosse ter ouvido “quando tiver carro venha cá outra vez”. Tendo em conta esta situação, deparei-me com a realidade que muitas empresas na mesma área exigem carro próprio.  
Emerge a questão: Comprar carro ou mota cá ou trazer o nosso veículo de Portugal? 

Descartada estava a hipótese de comprar carro cá. Após alguma pesquisa, constatei que os seguros são elevados e ainda acresce a Road Tax, que é semelhante ao nosso Imposto Único de Circulação (fonte: http://codigopostalinternacional.blogspot.co.uk/2013/06/comprar-carro-no-reino-unido.html). Para quem, como eu, está no início, não há possibilidade de suportar tais custos.
Pensei em adquirir uma mota, era económica, e suficiente para mim, mas em conversa com o meu marido, ele disse-me: “ Vais ficar doente porque vais apanhar muito frio!”
Resumindo... a solução era mesmo trazer o nosso carro até cá. Mas quem? Como?
Surgiu então uma transportadora que tinha um lugar disponível por 500€ e prontificou a trazer o meu carro para cá. A entrega foi rápida e fiquei francamente satisfeita com o serviço, pelo que recomendo.
O custo de trazer o carro de Portugal para Inglaterra acabou por se verificar muito mais em conta do que comprar um carro para as necessidades de um inicio de vida, até mesmo do que do que o que me custaria ir pessoalmente buscá-lo.

No que diz respeito à adaptação à condução na Inglaterra, a minha experiência tem sido positiva.
Andar no sentido oposto a que estava habituada não me fez muita confusão, mas confesso que o que me inquietou um pouco foi conduzir nas rotundas. A primeira vez que fiz uma rotunda pela esquerda esqueci-me de olhar para o lado direito, felizmente que naquele momento não passava nenhum outro veículo. 
O truque para não entrarmos no lado errado da via é pensar sempre que o condutor tem de andar sempre do lado do passeio (visto ter o volante do lado esquerdo). É tudo uma questão de mentalização! As estradas estão, na minha opinião, muito bem sinalizadas, encontramos sempre uma seta a indicar o sentido e isso facilita imenso.
Como é natural conduzo sempre com muita precaução, ainda não adquiri a confiança que tinha quando conduzia em Portugal, mas não tenho medo de conduzir cá. E aos poucos, e com tempo, sei que irei progredir ainda mais.
Os condutores ingleses são mais pacientes e tolerantes, por exemplo, quando vêem um camião cedem-lhe passagem inclusivé até mesmo no caso de cruzamento de veiculos em vias apertadas é tudo feito civilizadamente e sem grandes pressas.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

ACREDITAR e mudar


Estas palavras que hoje escrevo são especialmente para quem, como eu, iniciou ou pretende iniciar a sua vida noutro país! Deixo o meu testemunho porque sei que, como eu, existem milhares de pessoas na mesma situação, no mesmo dilema: Ir ou Não ir!

Nunca é fácil tomar a decisão de partir! Deixar a família e tudo o que nos rodeia e ir em busca de uma vida melhor!
Ainda não fez um mês que deixei a minha família em Portugal (marido e filhas). E parti para um país que me acolheu de braços abertos e me deu a oportunidade de poder trabalhar e reconstruir a minha vida! Aos poucos, delineando a minha vida por objectivos, etapas e conquistas! Não adianta ficarmos tristes, frustrados, sem perspectivas de futuro, de braços cruzados. É preciso ir à luta, correr atrás daquilo que “Eu” quero! E dizem vocês: “pode correr mal”, verdade! Mas se nunca tentarmos Nunca saberemos se correu mal ou bem!
E é esse o desafio da vida: ACREDITAR!

A minha experiência ainda é muito recente, mas posso dizer-vos que eu ACREDITO, e vou lutar com todas as minhas forças para alcançar os meus objectivos.
Um dia (já velhinha) vou olhar para trás e, numa retrospectiva da vida, dizer: Tentei!
O resto o futuro me dirá!

Sejam felizes!
Sandra

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Crónicas do emigrante: Sede de crescer!

Hoje levei a minha filha e mais duas amigas dela ao cinema para verem o filme dos One Direction, uma boys band muito popular e que tem andado na berra estes últimos tempos.

Todas vestiam t-shirts da banda e levavam malinha ao ombro, uma delas usava ainda maquiagem e sapatinho alto. Em Portugal as raparigas com 9/10 anos de idade são ainda muito meninas, por aqui, na Inglaterra, querem crescer cedo e serem umas jovens adolescêntes.

No filme, os elementos da banda falavam das mudanças da vida de cada um deles após o início da boys band... dei comigo a divagar...

A minha filha R, agora com 9 anos, está a entrar naquela idade em que já não é uma criança mas também ainda não é adolescente. Anda num meio termo, meio ambiguo, pouco claro e por vezes noto que já quer ser vista como uma mulherzinha. Com atitudes já de pre-adolescente, ela e as amigas claro.
Há pouco tempo queria que lhe comprasse bilhete para um dos concertos da referida banda. O preço dos bilhetes, sim porque teria que ser um bilhete para ela e outro para um adulto, ultrapassava as £300, loucura total! Primeiro, acho que é de todo descabido gastar tanto dinheiro para umas horas de diversão e além do mais têm uma vida inteira para ir a concertos.

Hoje as raparigas querem liberdade e exigem tudo o que as amigas têm. Desejam igualar-se aos seus pares. Para mim, como mãe, não está fácil aceitar esta mudanca, ainda para mais quando estamos inseridos noutras culturas diferentes da nossa.

Serei só eu ou haverá por ai mães com o mesmo problema?

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Crónicas do Emigrante: por Rute Silva


Emigrar é uma experiência única e tem, na minha opinião, uma relação linear com a personalidade de cada um. A decisão nem sempre é fácil e os prós e contras também são pessoais e intransmissíveis. No entanto, deixo aqui o meu testemunho… pode ser que alguém por aí aproveite a minha “impressão digital” para se inspirar!
Neste caso particular quero falar de uma empresa (não, não ganho comissão, mas acredito piamente na utilidade do trabalho que desenvolvem): a Britbound !

Ouvi falar da Britbound pela primeira vez no blog “Sofia em Londres” que agora se transformou em tumblr. A Sofia tinha pensado em usar a empresa e não o fez porque achou não ser necessário, mas eu acabei por ir explorar o site e achei o conceito interessante e acessível!
A primeira ajuda que a Britbound me deu foi com este texto: “Should Istay or should I go?” que remetia para este “What an utter loadof ****” que destrói todas as desculpas que vamos criando na nossa cabeça para evitar a decisão! Portanto, se estão na dúvida: leiam intensamente os textos do Guidebook da Britbound! - (e, até aqui, é gratuito!)

Já decidimos atirar-nos de cabeça a esta aventura, agora temos de pensar em criar uma rede de suporte! Pode ser um amigo que tenhamos do outro lado, um familiar... mas se não há ninguém ou se precisamos de um pouco mais de independência na nossa aventura? É aqui que entra a Britbound como empresa!
Eu decidi pensar por analogia e achei que estava a comprar o acesso a um clube de jovens emigrantes! Foi a minha mãe que me ofereceu o pacote de £65 (o mais económico) e que incluía os serviços básicos: Conta bancária, NIN (o equivalente ao número das finanças e segurança social), cartão de telemóvel, um cartão de viagens com um pré-carregamento e mais uma infinidade de coisinhas que parecem apenas isso: coisinhas, mas que se revelaram muito interessantes!
Sim! Podem fazer a maior parte destas coisas de forma gratuita e sem a ajuda de ninguém, mas é tão confortável ter alguém com quem conversar… alguém que organiza tudo por nós… alguém que nos liga quando chegamos a um país estranho, só para nos dizer “olá, está tudo bem?”… ter um telefone pronto assim que aterramos para receber chamadas da família e amigos sem gastos desnecessários e ter um espaço de ajuda: sim, isso é o mais importante! Entrar na sede da Britbound e ver um montão de gente como nós, ter acesso à internet e ter uma pessoa competente a tentar perceber o que podemos fazer para não falhar nesta aventura!

Há outros pacotes que considero tão ou mais interessantes do que aquele que eu comprei. Com alojamento inicial, com VISA (dentro do espaço europeu não é necessário) e até com trabalho (ou Money Back)!
Voltando ao meu caso particular: Estive muito indecisa entre comprar o pacote básico ou o pacote com trabalho na minha área. O fator que me fez decidir pelo pacote básico foi que eles estão mais preparados para trabalhar com propostas de emprego em Londres e eu tinha uma amiga em Gravesend (Kent)… foi decidir entre a possibilidade de um trabalho ou a segurança de ter uma amiga ali ao lado a quem podia gritar “acudam-me!” a qualquer momento. - Lá está… pessoal e intransmissível… esta experiência de emigrar!

Para rematar esta partilha queria desde já salvaguardar que não acho que o serviço desta empresa seja oportunista! Não acho que seja pagar para trabalhar! Acho que é pagar um serviço! E acho que é um serviço útil! Voltava a fazer tudo de novo! (e estou ansiosa por começar a participar nos eventos deles!!!! ;) )

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O CPI agradece a participação da Rute Silva no blogue. Muito obrigada!
Se quiseres fazer o mesmo e deixar o teu testemunho como emigrante, não hesites, entra em contacto com o Código Postal Internacional.

sábado, 5 de outubro de 2013

Destino: Alemanha!

Hoje o CPI traz ao blogue mais um texto sobre a, cada vez mais frequente, emigração. Desta vez o destino dos portugueses é Alemanhã. Mais três testemunhos reunidos pelo Público online através da jornalista Maria João Guimarães.  


"São cada vez mais a chegar: portugueses, gregos, espanhóis. O desemprego, os fracos salários e a falta de oportunidades empurraram-nos para o país que se tem mantido forte durante a crise europeia.
Está sempre a chegar gente, comenta Hugo Estrela, um português a viver em Berlim. "É um amigo, um amigo de um amigo, o primo de um amigo..." - portugueses que, fartos da situação em Portugal, vêm para a Alemanha. "E nem é tanto para Berlim - para Frankfurt, Munique, por exemplo." As situações repetem-se: busca de emprego sem encontrar nada, trabalhos mal pagos, falta de possibilidades de progressão, falta de escolha.

A Alemanha está a receber cada vez mais pessoas dos países da crise. Segundo o Instituto Federal de Estatística, a percentagem de portugueses a chegar à Alemanha aumentou 43% entre 2011 e 2012 (mais 4000 pessoas), a percentagem de gregos corresponde aos mesmos 43% (mais 10 mil), a de espanhóis 45% (9 mil), de italianos, 40% (12 mil).

Muitas destas pessoas não queriam sair do seu país. Rita Ferreira já tinha pensado várias vezes nisso, mas "nunca tinha tido coragem". Depois de dois períodos de desemprego, de ter de regressar a casa dos pais (ela é do Algarve, onde tinha trabalhado cinco anos numa agência de comunicação como designer), de tentar tudo e mais alguma coisa e de ver vários amigos sair... "Chegou a altura em que disse: "É a minha vez.""
"Um amigo falou-me de uma vaga na empresa onde trabalhava aqui em Berlim", conta. "Foi tudo muito rápido. Duas entrevistas por telefone e email, e entre ele falar nisso e eu vir para cá, passou-se uma semana." Foi em Maio de 2012, mas a facilidade ainda hoje parece incrível. "A quantidade de currículos que mandei em Portugal e não deu em nada..."
O cargo a que se candidatou na empresa de publicidade online (tem sede em Berlim e escritórios em Londres, EUA, Turquia, e também na Ásia) é de webdesigner. "Que não sou", comenta. Teve formação, ficou à experiência três meses, e agora tem contrato sem termo. Começou a ganhar 2000 euros (brutos) e agora 2500 (cerca de 1600 líquidos). Não tem comparação com o que ganhava em Portugal - mil euros no segundo trabalho e no primeiro "nem isso, cerca de 700".
Em Berlim tem amigos "polacos, italianos, espanhóis, brasileiros, italianos, bielorrussos", enumera. Vai comer a restaurantes de todo o mundo (e ilustra-os no blogue WeAteHipsters). "Aqui não sentimos que estamos na Alemanha", comenta. A língua é, aliás, um problema para Rita, que já começou, desistiu e agora recomeçou a ter aulas de Alemão.
De resto, é a questão de sempre: não há sol. "Este céu cinzento que estás a ver" - e que já começou há umas duas semanas - "vai continuar durante meses."
A cidade tem só mais um defeito. "Sinto-me velha aqui", comenta a rir. "A média de idades na empresa é de 20, 25 anos, incluindo os meus chefes. São novos, mas já têm muito currículo."


Levar troco da troika
Cláudio Vilarinho está "onde está o trabalho". E este tem mudado um pouco nos últimos meses. "Em Maio de 2012 não pensava estar em Londres", e em Setembro lá estava. E quem diria? Agora está sentado numa mesa de um café em Berlim.

Depois de anos em Portugal a trabalhar em arquitectura, com atelier próprio (em sete anos, vários primeiros prémios e outras menções em concursos de arquitectura), começou a ficar farto de, mesmo assim, nunca ter dinheiro suficiente para cobrir as despesas do atelier. "Começa-se a entrar na realidade e a questionar: tenho de procurar um emprego?" Assim, passou um ano a tentar encontrar algo em Portugal: nada. Depois, mandou cerca de 30 currículos para o estrangeiro: Suíça ("Gosto da arquitectura lá"), Londres ("Para melhorar o inglês"), Noruega ("Diz-se que tem qualidade de vida"), Áustria ("Apenas para um atelier porque estava lá um ex-professor").
"Tive sete ou oito respostas - e umas cinco iam em fase adiantada." Passadas duas semanas, decidiu aceitar ir para a capital britânica. Voltas e reviravoltas depois, a Londres chega uma proposta austríaca, e Cláudio decide-se por ela.
Pouco tempo depois, passa para Berlim, para colaborar na mesma empresa - e aqui está ele. Quer dizer, entre lá e cá, porque a cada 15 dias, passa quatro em Portugal. Por várias razões, mas a principal é a família, mulher e duas filhas. "Chego na sexta, pouso a mala e vou buscar as minhas filhas ao jardim-de-infância, e ainda as levo na segunda-feira antes de apanhar o avião", diz. "Mas não é como estar sempre em Portugal."
Vai falando dos projectos em que tem participado - aqui em Berlim, um concurso para uma torre com 48 mil m2, ou um edifício de 17 mil m2 em Munique. Em Portugal, após ter vencido o concurso público de concepção, aguarda o início da construção do Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-sustentabilidade, da Universidade do Minho, 3000 m2, que deverá começar em breve.
Cláudio não arrisca dizer onde estará amanhã. Agora, vai ligando cá e lá: sendo português e passando factura portuguesa pelos serviços de arquitectura, isto é, exportando os serviços que vai prestando na Alemanha, recupera "uma parte do dinheiro que estão a ganhar [com Portugal] com os empréstimos da troika de volta para Portugal", comenta, a rir e com um brilhozinho nos olhos.

Hugo Estrela, 30 anos, está em Berlim há quase três. Não saiu por causa da crise, mas tem "quase a certeza de que lá não conseguiria fazer o que [está] a fazer [em Berlim]". "Pelo que me dizem, saí mesmo na altura certa."

Do Erasmus à fotografia
Começou por vir fazer Erasmus de seis meses (estudou Letras na Universidade de Lisboa), na Universidade de Humboldt, e passado duas semanas ligou à coordenadora do Erasmus dizendo que queria prolongar a estadia por um ano. Terminou o curso, fez um estágio remunerado que tinha mais ou menos a ver com Letras ("Diziam que era edição, mas na verdade era pesquisa e tradução para uma start up") e depois decidiu-se por um curso de fotografia, que já fazia há algum tempo mas "por diversão".
Na Alemanha "há possibilidade de estudar fotografia a sério". Decidiu concorrer à Ostkreuzschule e depois das provas, entrevista, etc., foi admitido. No segundo ano de curso, vai tendo já trabalho de fotografia através da escola. "Há sempre alguém que viu, gostou [e encomenda trabalhos], e aqui é bem pago." Juntamente com part times - "Já trabalhei em bares, cafés, recepção de hotel"- tem dado para a despesa. O part time é num hotel onde ganha cerca de oito euros à hora, com dois a três turnos por semana, de quatro a oito horas.
"Um pouco à justa", diz, mas dá para as despesas e para os projectos do curso - o seu projecto final será agora no Norte da Grécia, na fronteira com a Bulgária e a Turquia. Mas quer desfazer a ideia de que "tudo aqui é maravilhoso", diz. "Tenho colegas que passam algumas dificuldades."
Com a escola,e com amigos e namorada aprendeu alemão. "Fui a duas aulas." E o resto aprendeu o "alemão de rua". Para já, pensa ficar na Alemanha, "sem dúvida". Na sua escola, fazem sempre uma exposição de final de curso que atrai atenções, é "uma rampa de lançamento", e depois não será difícil encontrar trabalho.

(...)"

Fonte: http://www.publico.pt/mundo/jornal/portugueses-partem-para-a-alemanha-para-estarem-um-passo-a-frente-a-crise-27125231

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Arquitectos portugueses... uma realidade comum a tantas outras.

A realidade dos Arquitectos portugueses que procuram trabalho no exterior não é diferente da maioria dos emigrantes graduados ou não. São raros os portugueses que escolhem emigrar por opção e não por necessidade. Quem emigra sai, essencialmente, em busca de trabalho, em busca de estabilidade financeira e profissional. 
O texto que partilhamos a seguir é do Diário Imobiliário e retrata a necessidade dos Arquitectos saírem pelo mundo em busca de trabalho e com o que podem ou não contar lá fora.


"Tem apenas 27 anos, é arquitecto e já tem a experiência de trabalhar num grande atelier em Espanha, um dos melhores da Europa. Tiago Antão após terminar o curso de arquitectura, decidiu apostar no mercado internacional e depois da experiência, recomenda a qualquer colega.
Não tem dúvida que foi a melhor opção que tomou tendo em vista o panorama que se vive em Portugal. No escritório que trabalhou, surpreendeu-o a qualidade dos recursos físicos, materiais e humanos, assim como a organização e gestão que o tornava bastante eficiente, produtivo e rentável, o que se reflectia nas boas condições e remunerações oferecidas aos colaboradores. “Nele trabalhei num ambiente multicultural e com pessoas muito competentes, o que me fez evoluir bastante a nível profissional. No escritório elaborávamos constantemente concursos internacionais de arquitectura, onde concorríamos contra os escritórios de arquitectura de topo europeus e mundiais”, lembra.

Tiago Antão é um dos exemplos de muitos jovens arquitectos que ao terminarem o curso não tiveram outra alternativa senão emigrar. Lá fora as oportunidades surgem com mais frequência e as vantagens são muitas mas será que todos têm o sonho e o desejo de irem trabalhar para o estrangeiro? A verdade, é que mais do que vontade é a necessidade que os leva à procura de trabalho pelo Mundo.

O Diário Imobiliário falou com alguns arquitectos, sobretudo aqueles que decidiram ser uma voz e uma ponte de todos os que andam espalhados pelos quatro cantos do Mundo a falarem português e a fazerem o que mais gostam: arquitectura.

Tiago Antão é um deles que juntamente com Vítor Rocha criaram a página web Arquitectos Portugueses no Mundo (APM) em 2011. Uma página que tem vindo a crescer e a proporcionar informação em torno das questões e tendências relativas à emigração dos arquitectos portugueses e à internacionalização das empresas de arquitectura portuguesas.
Bruno Moreira, é outro jovem arquitecto que criou a página Arquitectos pelo Mundo, um mapa dos arquitectos portugueses que se encontram a exercer a sua actividade profissional fora de Portugal que pretende dar visibilidade a uma realidade que afecta estes profissionais, por imperativo ou opção. Bruno revela que já tem cerca de 250 arquitectos registados, mas acredita que este número está muito longe do número real de arquitectos que, efectivamente, se encontram a exercer a actividade profissional de arquitecto fora do país.

Trabalhar fora é uma necessidade e não uma opção
Estes arquitectos têm a noção clara sobre o que leva os arquitectos portugueses a saírem de Portugal. São unânimes em confirmar que a maioria procura trabalho fora do país, não por opção mas sim por necessidade.
Bruno Moreira explica que no âmbito de uma mesa-redonda organizada recentemente pelaOrdem dos Arquitectos Secção Regional Sul (OASRS), os Arquitectos pelo Mundo lançaram um inquérito aos arquitectos registados no mapa. “As 40 respostas que recebemos deram-nos um quadro impressionante sobre a questão, contado na primeira pessoa: percebemos que os arquitectos pelo mundo são efectivamente, na sua maioria, jovens que emigraram recentemente, e é particularmente relevante o facto de 1/4 deles ter referido que não teve qualquer experiência profissional em Portugal. Isto leva-nos a colocar a questão de ‘o que é ser arquitecto português’ sem nunca ter exercido em Portugal; ou se estamos a internacionalizar a arquitectura ou a exportar arquitectos; ou ainda se estes arquitectos regressarão algum dia a Portugal e contribuirão para o seu desenvolvimento”, revela.
Também Tiago Antão e Vítor Rocha referem ainda outra questão importante na emigração dos arquitectos. Apesar de não existirem dados estatísticos, é possível afirmar que o desejo de emigrar, por forma a resolver a falta de trabalho, é crescente. “Contudo, é necessário frisar que conseguir emprego no estrangeiro não é fácil e os arquitectos portugueses não são os únicos a emigrar. Daí que a emigração, embora ajude, não é a solução para o problema causado com a formação excessiva de arquitectos em Portugal”, admitem.

Candidaturas espontâneas ou à descoberta por alguns meses
A forma de os arquitectos encontrarem trabalho fora de Portugal é na maioria das vezes através do envio de currículos com uma candidatura espontânea ou de candidaturas a ofertas via internet. Bruno Moreira refere que a maioria tem experimentado uma estratégia "mista", isto é, não ficam em Portugal a enviar emails e currículos para todo o lado mas também não emigram de forma definitiva sem terem uma perspectiva minimamente segura: optam antes por viajar alguns dias para essas cidades e países, eventualmente ficam em casa de amigos e colegas arquitectos que já lá estão, e percorrem a cidade deixando, pessoalmente, os currículos e portfolios nos gabinetes de arquitectura ou empresas de construção. “É uma forma de demonstrar interesse mais eficaz, provavelmente, do que um email enviado para 300 destinatários”, adianta.
Também para Tiago Antão e Vítor Rocha, no caso dos arquitectos mais jovens o trabalho em empresas estrangeiras é conseguido maioritariamente através de candidatura espontânea ou de candidatura a ofertas via internet, tendo as candidaturas maior taxa de sucesso em empresas de arquitectura de autor. “Já as grandes empresas internacionais de arquitectura comercial, muitas vezes ligadas a construtoras e promotores imobiliários, recrutam sobretudo arquitectos mais experientes. A situação mais comum de saída dos arquitectos é com contrato apalavrado ou assinado, ou pelo menos com entrevistas de trabalho agendadas. Contudo, há sempre quem parta em busca de trabalho sem nada definido, os quais podem passar meses sem conseguir trabalho na área, por vezes conseguem e outras vezes regressam”, explicam.

Europa a mais apetecida e com mais ofertas
A Europa continua a ser o destino mais procurado pelos arquitectos portugueses e o que apresenta também melhores oportunidades. A Europa Central, nomeadamente a Suíça, o Reino Unido, a França e os Países Baixos e alguns países nórdicos, são os que recebem mais portugueses.
O Brasil tem também sido escolhido para alguma procura e “os arquitectos com mais anos de experiência encontram-se sobretudo em países lusófonos, como o Brasil e Angola, e, embora com menos expressão, em países do Médio Oriente, como o Kuwait, Dubai, Qatar e Emirados Árabes Unidos, e da Ásia, como é o caso de Macau e China”, salienta Tiago Antão.

A oportunidade é uma janela estreita que se fecha rapidamente
Contudo, Bruno levanta uma questão que é importante para os arquitectos que pensam em emigrar. “De notar que estas oportunidades poderão tornar-se cada vez mais escassas – a Suíça e o Reino Unido estão a definir ou pensar definir, precisamente, limites à imigração nos seus países. A questão com as ‘oportunidades’ é precisamente essa – elas são uma janela estreita que se fecha rapidamente. Há que estar atento ao panorama económico global, às redes de comunicação internacionais e ao mercado de trabalho porque, muitas vezes, ser seleccionado para um lugar é mais estar no local certo, à hora certa, com vontade de (re)aprender e integrar uma estrutura, do que apresentar um Currículo ou portfolio individual brilhantes”, salienta.

Maioria recebe o suficiente para fazer a sua vida e poupar no final do mês
Para quem tem dúvidas se ir para fora compensa financeiramente, naturalmente que tanto Bruno, como Tiago ou o Vítor, são unânimes em afirmar que sim. Sobretudo, quando não há trabalho em Portugal e quando há, a remuneração é cada vez mais baixa.
Tiago e Vítor revelam que há que separar condições distintas. No estrangeiro, à semelhança de Portugal, existem estagiários não remunerados ou insuficientemente remunerados, contudo a maioria dos estagiários consegue pelo menos não ter prejuízo. Já um jovem arquitecto recebe geralmente o suficiente para fazer a sua vida e poupar no final do mês, neste caso e dependendo do país de destino as poupanças poderão ser boas. “Contudo, é importante ter em conta que um dos motivos que leva uma empresa a contratar um jovem arquitecto estrangeiro, para além das suas competências profissionais, é o facto de ser um trabalhador mais barato relativamente aos nativos. Por fim, um arquitecto com anos de experiência e qualificado, que apresenta um valor acrescentado há empresa, poderá conseguir um ordenado que lhe permite um bom nível de vida e poupanças elevadas”, admite Vítor Rocha.
Contudo, Bruno Moreira alerta para algumas questões. “Testemunhos de colegas desmentem a existência do el-dorado – as remunerações são superiores às praticadas em Portugal, mas também o são o custo de vida, as despesas com habitação, os seguros profissionais e de saúde (por vezes obrigatórios), e… as viagens para Portugal”, adianta.

Convém ter um fundo de maneio para o estabelecimento num país
Qualquer um dos responsáveis não consegue encontrar grandes dificuldades na adaptação e na aceitação dos arquitectos portugueses nos locais e nos ateliers onde se instalam. Bruno Moreira, refere que cada país possui as suas condicionantes específicas: apontam-se, sobretudo, dificuldades no reconhecimento da formação profissional e académica, e dificuldades em dominar a língua "técnica" associada à arquitectura e à construção, que vai desde o nome dos processos e fases de um projecto aos materiais de construção. “A língua é uma dificuldade mas, aprendida, é uma mais-valia”, esclarece.
Também Vítor e Tiago revelam que pela experiência o processo de adaptação dos nossos arquitectos é relativamente rápido e sem grandes dificuldades. No entanto aconselham, “convém ter um fundo de maneio para o estabelecimento e para qualquer eventualidade. Poderá existir a questão da língua, e, embora o inglês ajude no início, é necessário aprender a língua local para o quotidiano e para progredir profissionalmente. Contudo, para um arquitecto jovem que cresceu na era da globalização e do mercado global, do Programa Erasmus, dos estágios e bolsas no estrangeiro e dos voos low cost, a deslocação do seu país e permanência num outro para trabalhar é uma situação encarada com relativa naturalidade. Conhecemos também casos de arquitectos mais velhos que partiram para países exóticos e que estão satisfeitos com a decisão e com a mudança que deram à vida”, admitem.

As redes sociais têm sido aliadas fortes nesta caminhada
Os Arquitectos pelo Mundo e os Arquitectos Portugueses no Mundo são alguns exemplos de como a internet e as redes sociais podem ter aqui um papel preponderante para esta caminhada pelo mundo dos arquitectos portugueses. Para alguns esta experiência além-fronteiras pode ser apenas uma experiência temporária e para muitos talvez seja o destino da sua vida.
Mas aqui em Portugal, ou têm de mudar de profissão ou se quiserem seguir o sonho de fazer arquitectura, a única solução é mesmo pegar no currículo e enviar para empresas fora do país.
O arquitecto Eduardo Souto Moura confessa mesmo: “O que tenho aconselhado à minha filha e aos meus amigos é que passem uns tempos fora. Antigamente, as pessoas emigravam e, como existiam 20 mil arquitectos cá, quando regressavam perdiam trabalho. Agora podem ir para fora sossegados, para onde quiserem, porque aqui não se vai fazer nada”."

Fonte: http://www.diarioimobiliario.pt/actualidade/arquitectos-a-procura-de-emprego-pelo-mundo/

Links úteis: http://arquitectospelomundo.com/
http://arquitectosportuguesesnomundo.blogspot.co.uk/

sábado, 13 de julho de 2013

O não ser de lado nenhum...

Hoje trazemos ao blogue um texto de Nuno Andrade Ferreira, jornalista e também ele emigrante. Queremos partilhar com os nossos leitores algo que sentimos, como emigrantes, diáriamente e que o Nuno tão bem espelha no texto abaixo. Esta sensação de pertencermos a todos os lados e não pertencermos a lado nenhum...


"Quando me pagavam casa e alimentação e me davam transporte e viagens a Portugal de três em três meses, era expatriado. A partir do dia em que decidi trocar Angola por Cabo Verde (um dia hei-de escrever sobre isto) e um ordenado razoável por um orçamento apertado, tornei-me emigrante.

Saí de Portugal em 2008, por vontade própria, quando a crise estava apenas no início e ninguém imaginava – tirando o Medina Carreira, vá – que viesse a ser “isto tudo” em que se tornou.

Deixar o país implica duas coisas: primeiro, estar disposto a recomeçar; segundo, saber abdicar. Se a viagem tem como destino um país africano, então abdicar significa deixar de lado, em versão simplista: luz eléctrica 24 horas por dia (ou pelo menos aprender a lidar com cortes frequentes), água potável na torneira (dependendo das zonas, água de todo), supermercados com dez marcas diferentes para cada produto e Internet rápida.

Nestes cinco anos, já vi de tudo: betinhos de cabelo impecável que confundem Luanda com Londres, drama queens que choram do primeiro ao último dia com saudades de casa (e do shopping), novos hippies que se põem tão à vontade que acabam com uma hepatite ao fim de três semanas e trolhas que deixam as mulheres em Portugal e arranjam uma amante – ou várias – que os levam até onde não julgavam ser possível.

Todos os outros são aqueles que se envolvem, participam e tentam fazer parte. Tenho visto muita presunção, mas vou conhecendo, também – e felizmente – muita gente cheia de vontade de dar a volta por cima. Assumem o risco e, mesmo quando as coisas correm mal e a estadia acaba por ser mais curta do que o previsto, guardam da experiência o que esta teve de melhor.

Certo dia, a propósito de um episódio de má memória, escrevi qualquer coisa parecida com isto: “nunca serei de cá e não voltarei a ser de lá”. E é este o principal dilema de um tipo como eu.

Em Portugal, olham para mim como o tipo que vive lá fora e não faz a mínima ideia “do que passamos aqui” (além de acharem que estou rico e que passo o dia na praia). Onde vivo, sou um estrangeiro “na terra de gente” e, por melhor integrado que esteja e menos preconceituoso que seja, o argumento “vai para a tua terra” é sempre o último recurso numa discussão.

Emigrar tem tudo a ver com reaprender a viver. Emigrar para África ainda mais. A quem chega, não se pede que desista de ser quem é, mas espera-se, pelo menos, que aceite os outros como são."




segunda-feira, 8 de julho de 2013

Entrevista de emprego


Esta semana tive uma entrevista na escola onde trabalho, para a posição de assistente de biblioteca. Apesar de já ser funcionária da escola, foi-me comunicado por carta, o dia, o tempo estimado  e a agenda prevista para o processo de selecção.

Pois bem, às 9h50m de quinta-feira apresentei-me na recepção da escola com 3 outras candidatas. Uma delas é também minha colega de trabalho diário e inglesa de gema. O processo de selecção começaria às 10h e, como manda a etiqueta aqui na Inglaterra, devemos chegar 5 a 10 minutos antes da hora prevista.

Às 10h chega uma acompanhante que nos leva a todos a uma sala. Nessa sala, inicia-se conversa de circunstância, e é-nos oferecido chá, leite, água e umas bolachas. Todas padeciamos do mesmo, nervos e calor! Quem haveria de querer comer fosse o que fosse?! Queriamos era começar logo e acabar com o nervoso miudinho. A minha colega Sarah, de quem gosto muito, estava vermelha como um tomate e calada que nem um rato. Era aparente o pouco à vontade que estas situações trazem. As duas outras candidatas, pareciam ter um à vontade que nem eu nem a Sarah tinhamos e de certa forma era até perturbador, talvez fossem os nervos que as faziam estar faladoras e inquietas.

Entretanto apareceu a responsável, Sra. D., que entregou a cada uma a agenda personalizada do processo de selecção e explicou todo o processo. A selecção seria feita ao fim dos seguintes passos: trabalho escrito (assessement), visita guiada à escola, entrevista informal com o Sr. R., que trabalha diariamente na biblioteca, e ainda uma entrevista formal com duas responsáveis (a Sra D. e a Sra S. - responsável pela biblioteca. Estavam destinados 25 a 30 minutos para cada tarefa.
Todas passariamos pelo mesmo, mas em horários desencontrados, excepto na visita guiada que seguimos em pares.

Eu permaneci na sala e todas sairam para seguirem a sua agenda.
Eu comecei por ter um exercicio escrito. Respirei fundo quando li que era apenas escrever uma carta aos pais de uma estudante da escola, dizendo que esta nao tinha entregue os livros da biblioteca na data marcada e que estava sujeita a multa. Não levei mais de 10 minutos a fazer a carta no rascunho e a passa-la para papel limpo. O relógio não andava e os 20 minutos finais foram uma eternidade. As outras candidatas voltaram ao local e ainda tivemos uma pausa de 10 minutos.
Depois seguiu-se a visita guiada e voltámos para uma pausa na sala. Entretanto chegavam uma a dua pessoas para nos animar e saber se estava tudo bem ou se era necessário mais alguma coisa.
Chegada a hora da minha entrevista informal, lá segui para a biblioteca. Fiquei a saber como a  biblioteca funciona. O ambiente era muito acolhedor  e o Sr. R. uma simpatia.

De regresso novamente à sala onde estavam as outras candidatas, foi-nos oferecido o almoço, havia água, chá, sandes de camarão e de fiambre, salgadinhos diversos e fruta. Nestas coisas, os ingleses são de facto delicados e atenciosos.

Parti finalmente para a entrevista formal, a que mais temi... algumas perguntas de rotina e outras especificas relacionadas com a biblioteca. Uma das perguntas foi precisamente qual o último livro que li e descreve-lo de forma a motivar alguém a le-lo. Ainda bem que alterno as minhas leituras com livros portugueses e ingleses.
Fiz um saldo positivo no final da entrevista. Respondi a tudo sem gaguejar e com atitude positiva e claro de sorriso na cara. Com tudo isto tinham-se passado 3 horas.

A resposta chegou ao fim de 4 horas via telefonica. A Sra. D. ligou dizendo que tinham ficado muito impressionadas com a minha entrevista e com a minha confiança na entrevista. Eu era a segunda escolha das quatro, mas havia uma candidata mais adequada e com experiência, uma rapariga nova que trabalha numa livraria. Repetiu duas vezes, que estavam impressionados e para eu continuar à procura na escola, pois de certo iriam surgir outras posições. De facto há outra posição que se adequa mais a mim e estou em pulgas para concluir a minha candidatura de 9 páginas a entregar já na próxima segunda-feira. Esta é a época que a maioria das vagas em escolas surge, pois é agora que tem lugar a organização dos departamentos a fim de se iniciar um novo ano lectivo em Setembro.

É certo que não fui seleccionada, mas estou muito orgulhosa de mim mesma. Estudei 3 dias intensamente, procurei na internet perguntas de entrevistas  e respectivas respostas. Algumas têm mesmo que ser adequadas e respondidas conforme a tua personalidade. Li e re-li as perguntas e respostas e simulei a entrevista várias vezes, para evitar tropeçar nas palavras. Não ganhei a posição, mas saí mais enriquecida com esta experiência. A minha colega, que é inglesa, também nao foi escolhida porque é tímida e pouco confiante, assim justificaram as responsáveis pela decisão. Engraçado que inicialmente hesitei em concorrer porque a Sarah é inglesa e eu trabalho todos os dias com ela. Achei que seria desagradável mas, por fim, enchi-me de coragem e coloquei a minha candidatura. Tenho a certeza que ter uma atitude positiva e confiante no fim, foi meio caminho andado.
Nunca se esqueçam um NÃO é dado como certo, se nada fizermos; mas se formos à luta o SIM também é possivel!

Background photo by | Foto de fundo por: Neiman Marcus

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O poder do "comprovativo de morada"!


Quem emigra para Inglaterra pela primeira vez depara-se com uma dificuldade que, à primeira vista, parece ridicula: a exigência de comprovativo de morada para qualquer coisa que exija preenchimento de documentos. Conseguir o primeiro comprovativo de morada torna-se assim um objectivo primordial assim que pisamos as terras Britânicas.
Eu venci esta batalha, a do comprovativo de morada, com a abertura de uma conta bancária porém, para abrir conta bancária também pedem comprovativo de morada. Agora interrogam-se vocês: Então? Em que ficamos? Parece um ciclo vicioso! E pode bem ser se não tivermos as ferramentas certas na mão. Por isso hoje trago aqui a breve história da minha abertura de conta bancária que me possibilitou o meu primeiro comprovativo de morada.

Em Setembro de 2009, cerca de 3 semanas após a minha chegada a Inglaterra, estava a morar num quarto numa casa de amigos, sem contrato de arrendamento, não me encontrava ainda a trabalhar e apenas vivia na morada acima há algumas semanas. Nada dava garantias ao banco que no dia seguinte iria estar no mesmo local nem mesmo quais seriam as minhas intenções por cá. Mas o mais interessante foi a forma como essas dúvidas desaparecem para eles (entidade bancária).
Bastou eu estar inscrita numa agência de emprego e todos os problemas se anularam, dei o nome e morada da agência, bilhete de identidade e passaporte e... voilá! Conta Aberta!

Com conta aberta consegui o precioso comprovativo de morada com o primeiro extracto bancário que me foi enviado para casa. Este permitiu-me, entre muitas coisas, a inscrição no centro de saúde. É verdade, um papelinho que tenha o nosso nome, morada e o logótipo de uma entidade credível vale muito para quem está a começar vida neste país! E como os maiores problemas, pelo menos na nossa visão recém-chegada a um país bastante coerente e inteligente a nível burocrático e organizacional, se transformam numa solução fácil!

terça-feira, 2 de julho de 2013

Viagem a Portugal


Está naquela altura do ano, em que começo a contar as semanas que faltam para ir a Portugal. Por aqui, o Verão teima em não querer chegar, pelo menos este ano. Fico nostálgica a pensar nos passeios a pé que tanto gosto de fazer entre o Estoril e Cascais. Andar no paradão, a respirar o cheiro a mar e sentir o sol a queimar, mesmo que o sol já esteja a pôr-se. "Stop! "- Imponho a mim própria.

Retomando o assunto da viagem a Portugal, desde que aqui chegámos que temos por hábito ir de carro. Inicialmente a razão era o Freddy, o nosso peludo de 4 patas, fazia-me confusão que ele fosse fechado numa caixa no porão do avião e possivelmente ter que o drogar para não incomodar ou não passar mal.
A outra razão que nos leva a ir de carro, é que tanto eu como os miúdos ficamos 6 semanas em Portugal e o carro é o nosso meio de transporte. Alugar carro em Portugal seria muito dispendioso. O marido volta a Inglaterra, de avião, para trabalhar, dado que só pode tirar 25 dias de férias e as mesmas têm que ser repartidas, não podendo goza-las todas de uma só vez.

Para passar para França temos duas hipóteses aqui na zona sul-este de Inglaterra, ou passamos de comboio pelo túnel da Mancha (Eurotunnel) ou de barco (ferry), em ambos os casos entramos em França por Calais.
Pelo túnel é sem dúvida alguma mais cómodo e rápido, apenas 35 min dentro duma carruagem de comboio, tão grande quanto necessário para caber autocarros de passageiros. De barco leva-se aproximadamente 1h30m, agradável num dia de muito calor quando o sol se está a pôr. Pior são mesmo os enjoos! Quem preferir ter a algibeira mais recheada e aguentar bem a má disposição, então esta é a melhor solução. O bilhete de barco, deve ser comprado com antecedência, a fim de se obter o melhor preço. Consegue-se bilhetes por vezes metade do valor do bilhete do túnel. Nós costumamos comprar bilhete com 2 meses de antecedência, ainda assim este ano, os bilhetes mais baratos já estavam esgotados. A passagem de carro pelo túnel, pode custar cerca de £150, dependendo da época e do horário que pretendem. Fica mais barato viajar depois das 00h e até às 6 da manhã.

No túnel, pode-se levar animais até um máximo de 3 por veículo, deste que sejam portadores de passaporte internacional e tenham as vacinas e a desparasitação feita. A desparasitação tem que ser feita 24h antes e até 48h após aplicação. Já agora uma chamada de atenção, no passaporte tem que constar a hora e data da desparasitação tendo de ser carimbado e assinado por um veterinário oficial, caso contrário, será considerada inválida o que, no regresso de Portugal para Inglaterra, se torna um enorme problema, podendo atrasar a viagem mais de 24h.
Paga-se, por cada animal, um valor pela passagem, cerca de £15 para cada lado. No barco pode igualmente levar-se animais mas têm de permanecer no carro durante todo o percurso enquanto que as pessoas têm de abandonar os veiculos durante toda a travessia.
A viagem de casa até Folkstone leva-nos cerca de 45 minutos de carro. A restante viagem leva cerca de 19 horas se formos directos. Primeiro Calais, Boulogne Sur-Mer, Rouen, Le Mans, Tours, Poitiers, Angouleme, Bourdeaux, Bayonne, Burgos, Valladolid, Salamanca e finalmente terras portuguesas. Ultimamente temos optado por dormir a meio do caminho, já quase na fronteira de França com Espanha, zona de Bayonne e Biarritz. Dá ainda tempo de passear ao fim do dia e conhecer alguma coisa. Esta é uma zona turística muito bonita. Onde se fazem bons passeios à beira-mar e podemos disfrutar das grandes esplanadas no Verão.
Durante a viagem fazemos ainda várias pausas para esticar as pernas e comer alguma coisa. Os miúdos entretêm-se a ver filmes, ouvir música ou a dormir. Às vezes fazemos jogos para passar o tempo. No primeiro dia fazemos cerca de 9 a 10 horas de viagem e no segundo dia cerca de 8 a 9 horas, num total de 2000 kilómetros.
A viagem de carro custa cerca de £400 (ida e volta)  só em gasóleo, podendo custar mais ou menos dependendo do carro. Depois há que acrescentar as portagens das auto-estradas, cerca de £120 para cada lado. Estas contas estão feitas para um carro familiar de 7 lugares a gasóleo e motor 1,600 cc.
Se quisermos evitar as portagens, as estradas nacionais também são boas. Leva mais umas quantas horas de viagem.

Recomenda-se vivamente o uso de GPS durante a viagem, possivelmente um co-piloto com humor e pouco sono. O planeamento da viagem também é útil, costumo usar o google maps ou o viamichelin.

Bem... resta-me esperar que chegue a hora da partida, que o coração já palpita.

Links úteis:
http://www.eurotunnel.com/uk/home/
http://www.ferrysavers.co.uk/calais.htm?gclid=CI28rcirh7gCFVDJtAoduxsAxQ
http://www.viamichelin.co.uk/web/Routes?
https://maps.google.com/
http://www.eurotunnel.com/uk/traveller-info/pets/PET-travel-scheme-checklist-after-01-jan-2012/

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Ir ou ficar?... Eis a questão!


Supostamente já deveríamos estar em pleno Verão, com sol ardente, tardes quentes e gelado na mão. Mas por estas bandas, não me parece que o Verão queira dar o ar da sua graça! As nuvens no céu insistem em marcar presença dia após dia e a “nossa amiga” chuva é uma visita constante. Deprimente? Com certeza!

Para quem mora aqui no Reino Unido, já deveríamos estar acostumados com este “climazinho” de, hoje faz sol amanhã estará de chuva. Mas nesta altura do ano, sermos contemplados quase todos os dias com um céu nublado e com a ausência do sol é coisa que ninguém merece!

Em Portugal esta semana, pelo que tenho visto através de notícias e de conversas com familiares, o tempo está bem melhor, sol de rachar e temperaturas de fazer inveja. Estando eu quase a entrar de férias, pensei em dar um pulinho até lá para ver a família e alguns amigos, fazer praia e descansar um pouco, mas penso e quase tenho a certeza que a viagem ficará mesmo pelos meus lindos sonhos.

Para explicar melhor a minha possível decisão de ficar por cá, aqui vai!
Ultimamente tenho andado na Internet à procura de voos baratos para ir até à Santa terrinha, mas o que tenho visto são preços de matar qualquer um do coração, e morrer de ataque cardíaco agora não me soa nada bem. A minha pesquisa já dura há várias semanas e tenho consultado diversos sites de companhias aéreas diferentes que fazem voos para Lisboa, e os voos sem escala, ou seja, os voos directos, são nesta altura do ano exorbitantes. Sim, eu sei que já o deveria ter feito há mais tempo, mas por questões do foro pessoal não o pude fazer. Neste momento se eu decidir pagar um preço um pouco mais razoável, lá terei de optar por fazer escala ou mesmo “escalas” por diversos países, só assim, e porque já venho tarde e a más horas para comprar a viagem, conseguirei encontrar um valor mais em conta.

E agora pergunto eu: Será que compensa no final, todo o esforço de várias horas de viagem, fazendo escalas e possivelmente surgindo alguns contratempos para pagar um bilhete mais barato? Não me posso esquecer que na minha viagem levo sempre o piolho comigo, o que significa que fazer escala com uma criança de 4 anos é para esquecer! É como ir numa aventura sem fim à vista! Nem ele aguenta nem eu estou disposta a ter esse trabalho todo. Por isso, e fazendo bem as contas, a resposta infelizmente mais racional é mesmo, ficar o Verão por terras de Sua Majestade. So boring

Isto é o resultado de quem deixa as coisas para depois e arrepende-se!
Para o ano farei o booking das férias de Verão uns bons meses antes.

Vivendo e aprendendo!

                   http://www.edreams.co.uk
                   http://www.cheapflights.co.uk
                   http://www.ryanair.com
                   http://www.flytap.com
                   http://www.lufthansa.com