sexta-feira, 19 de julho de 2013

Arquitectos portugueses... uma realidade comum a tantas outras.

A realidade dos Arquitectos portugueses que procuram trabalho no exterior não é diferente da maioria dos emigrantes graduados ou não. São raros os portugueses que escolhem emigrar por opção e não por necessidade. Quem emigra sai, essencialmente, em busca de trabalho, em busca de estabilidade financeira e profissional. 
O texto que partilhamos a seguir é do Diário Imobiliário e retrata a necessidade dos Arquitectos saírem pelo mundo em busca de trabalho e com o que podem ou não contar lá fora.


"Tem apenas 27 anos, é arquitecto e já tem a experiência de trabalhar num grande atelier em Espanha, um dos melhores da Europa. Tiago Antão após terminar o curso de arquitectura, decidiu apostar no mercado internacional e depois da experiência, recomenda a qualquer colega.
Não tem dúvida que foi a melhor opção que tomou tendo em vista o panorama que se vive em Portugal. No escritório que trabalhou, surpreendeu-o a qualidade dos recursos físicos, materiais e humanos, assim como a organização e gestão que o tornava bastante eficiente, produtivo e rentável, o que se reflectia nas boas condições e remunerações oferecidas aos colaboradores. “Nele trabalhei num ambiente multicultural e com pessoas muito competentes, o que me fez evoluir bastante a nível profissional. No escritório elaborávamos constantemente concursos internacionais de arquitectura, onde concorríamos contra os escritórios de arquitectura de topo europeus e mundiais”, lembra.

Tiago Antão é um dos exemplos de muitos jovens arquitectos que ao terminarem o curso não tiveram outra alternativa senão emigrar. Lá fora as oportunidades surgem com mais frequência e as vantagens são muitas mas será que todos têm o sonho e o desejo de irem trabalhar para o estrangeiro? A verdade, é que mais do que vontade é a necessidade que os leva à procura de trabalho pelo Mundo.

O Diário Imobiliário falou com alguns arquitectos, sobretudo aqueles que decidiram ser uma voz e uma ponte de todos os que andam espalhados pelos quatro cantos do Mundo a falarem português e a fazerem o que mais gostam: arquitectura.

Tiago Antão é um deles que juntamente com Vítor Rocha criaram a página web Arquitectos Portugueses no Mundo (APM) em 2011. Uma página que tem vindo a crescer e a proporcionar informação em torno das questões e tendências relativas à emigração dos arquitectos portugueses e à internacionalização das empresas de arquitectura portuguesas.
Bruno Moreira, é outro jovem arquitecto que criou a página Arquitectos pelo Mundo, um mapa dos arquitectos portugueses que se encontram a exercer a sua actividade profissional fora de Portugal que pretende dar visibilidade a uma realidade que afecta estes profissionais, por imperativo ou opção. Bruno revela que já tem cerca de 250 arquitectos registados, mas acredita que este número está muito longe do número real de arquitectos que, efectivamente, se encontram a exercer a actividade profissional de arquitecto fora do país.

Trabalhar fora é uma necessidade e não uma opção
Estes arquitectos têm a noção clara sobre o que leva os arquitectos portugueses a saírem de Portugal. São unânimes em confirmar que a maioria procura trabalho fora do país, não por opção mas sim por necessidade.
Bruno Moreira explica que no âmbito de uma mesa-redonda organizada recentemente pelaOrdem dos Arquitectos Secção Regional Sul (OASRS), os Arquitectos pelo Mundo lançaram um inquérito aos arquitectos registados no mapa. “As 40 respostas que recebemos deram-nos um quadro impressionante sobre a questão, contado na primeira pessoa: percebemos que os arquitectos pelo mundo são efectivamente, na sua maioria, jovens que emigraram recentemente, e é particularmente relevante o facto de 1/4 deles ter referido que não teve qualquer experiência profissional em Portugal. Isto leva-nos a colocar a questão de ‘o que é ser arquitecto português’ sem nunca ter exercido em Portugal; ou se estamos a internacionalizar a arquitectura ou a exportar arquitectos; ou ainda se estes arquitectos regressarão algum dia a Portugal e contribuirão para o seu desenvolvimento”, revela.
Também Tiago Antão e Vítor Rocha referem ainda outra questão importante na emigração dos arquitectos. Apesar de não existirem dados estatísticos, é possível afirmar que o desejo de emigrar, por forma a resolver a falta de trabalho, é crescente. “Contudo, é necessário frisar que conseguir emprego no estrangeiro não é fácil e os arquitectos portugueses não são os únicos a emigrar. Daí que a emigração, embora ajude, não é a solução para o problema causado com a formação excessiva de arquitectos em Portugal”, admitem.

Candidaturas espontâneas ou à descoberta por alguns meses
A forma de os arquitectos encontrarem trabalho fora de Portugal é na maioria das vezes através do envio de currículos com uma candidatura espontânea ou de candidaturas a ofertas via internet. Bruno Moreira refere que a maioria tem experimentado uma estratégia "mista", isto é, não ficam em Portugal a enviar emails e currículos para todo o lado mas também não emigram de forma definitiva sem terem uma perspectiva minimamente segura: optam antes por viajar alguns dias para essas cidades e países, eventualmente ficam em casa de amigos e colegas arquitectos que já lá estão, e percorrem a cidade deixando, pessoalmente, os currículos e portfolios nos gabinetes de arquitectura ou empresas de construção. “É uma forma de demonstrar interesse mais eficaz, provavelmente, do que um email enviado para 300 destinatários”, adianta.
Também para Tiago Antão e Vítor Rocha, no caso dos arquitectos mais jovens o trabalho em empresas estrangeiras é conseguido maioritariamente através de candidatura espontânea ou de candidatura a ofertas via internet, tendo as candidaturas maior taxa de sucesso em empresas de arquitectura de autor. “Já as grandes empresas internacionais de arquitectura comercial, muitas vezes ligadas a construtoras e promotores imobiliários, recrutam sobretudo arquitectos mais experientes. A situação mais comum de saída dos arquitectos é com contrato apalavrado ou assinado, ou pelo menos com entrevistas de trabalho agendadas. Contudo, há sempre quem parta em busca de trabalho sem nada definido, os quais podem passar meses sem conseguir trabalho na área, por vezes conseguem e outras vezes regressam”, explicam.

Europa a mais apetecida e com mais ofertas
A Europa continua a ser o destino mais procurado pelos arquitectos portugueses e o que apresenta também melhores oportunidades. A Europa Central, nomeadamente a Suíça, o Reino Unido, a França e os Países Baixos e alguns países nórdicos, são os que recebem mais portugueses.
O Brasil tem também sido escolhido para alguma procura e “os arquitectos com mais anos de experiência encontram-se sobretudo em países lusófonos, como o Brasil e Angola, e, embora com menos expressão, em países do Médio Oriente, como o Kuwait, Dubai, Qatar e Emirados Árabes Unidos, e da Ásia, como é o caso de Macau e China”, salienta Tiago Antão.

A oportunidade é uma janela estreita que se fecha rapidamente
Contudo, Bruno levanta uma questão que é importante para os arquitectos que pensam em emigrar. “De notar que estas oportunidades poderão tornar-se cada vez mais escassas – a Suíça e o Reino Unido estão a definir ou pensar definir, precisamente, limites à imigração nos seus países. A questão com as ‘oportunidades’ é precisamente essa – elas são uma janela estreita que se fecha rapidamente. Há que estar atento ao panorama económico global, às redes de comunicação internacionais e ao mercado de trabalho porque, muitas vezes, ser seleccionado para um lugar é mais estar no local certo, à hora certa, com vontade de (re)aprender e integrar uma estrutura, do que apresentar um Currículo ou portfolio individual brilhantes”, salienta.

Maioria recebe o suficiente para fazer a sua vida e poupar no final do mês
Para quem tem dúvidas se ir para fora compensa financeiramente, naturalmente que tanto Bruno, como Tiago ou o Vítor, são unânimes em afirmar que sim. Sobretudo, quando não há trabalho em Portugal e quando há, a remuneração é cada vez mais baixa.
Tiago e Vítor revelam que há que separar condições distintas. No estrangeiro, à semelhança de Portugal, existem estagiários não remunerados ou insuficientemente remunerados, contudo a maioria dos estagiários consegue pelo menos não ter prejuízo. Já um jovem arquitecto recebe geralmente o suficiente para fazer a sua vida e poupar no final do mês, neste caso e dependendo do país de destino as poupanças poderão ser boas. “Contudo, é importante ter em conta que um dos motivos que leva uma empresa a contratar um jovem arquitecto estrangeiro, para além das suas competências profissionais, é o facto de ser um trabalhador mais barato relativamente aos nativos. Por fim, um arquitecto com anos de experiência e qualificado, que apresenta um valor acrescentado há empresa, poderá conseguir um ordenado que lhe permite um bom nível de vida e poupanças elevadas”, admite Vítor Rocha.
Contudo, Bruno Moreira alerta para algumas questões. “Testemunhos de colegas desmentem a existência do el-dorado – as remunerações são superiores às praticadas em Portugal, mas também o são o custo de vida, as despesas com habitação, os seguros profissionais e de saúde (por vezes obrigatórios), e… as viagens para Portugal”, adianta.

Convém ter um fundo de maneio para o estabelecimento num país
Qualquer um dos responsáveis não consegue encontrar grandes dificuldades na adaptação e na aceitação dos arquitectos portugueses nos locais e nos ateliers onde se instalam. Bruno Moreira, refere que cada país possui as suas condicionantes específicas: apontam-se, sobretudo, dificuldades no reconhecimento da formação profissional e académica, e dificuldades em dominar a língua "técnica" associada à arquitectura e à construção, que vai desde o nome dos processos e fases de um projecto aos materiais de construção. “A língua é uma dificuldade mas, aprendida, é uma mais-valia”, esclarece.
Também Vítor e Tiago revelam que pela experiência o processo de adaptação dos nossos arquitectos é relativamente rápido e sem grandes dificuldades. No entanto aconselham, “convém ter um fundo de maneio para o estabelecimento e para qualquer eventualidade. Poderá existir a questão da língua, e, embora o inglês ajude no início, é necessário aprender a língua local para o quotidiano e para progredir profissionalmente. Contudo, para um arquitecto jovem que cresceu na era da globalização e do mercado global, do Programa Erasmus, dos estágios e bolsas no estrangeiro e dos voos low cost, a deslocação do seu país e permanência num outro para trabalhar é uma situação encarada com relativa naturalidade. Conhecemos também casos de arquitectos mais velhos que partiram para países exóticos e que estão satisfeitos com a decisão e com a mudança que deram à vida”, admitem.

As redes sociais têm sido aliadas fortes nesta caminhada
Os Arquitectos pelo Mundo e os Arquitectos Portugueses no Mundo são alguns exemplos de como a internet e as redes sociais podem ter aqui um papel preponderante para esta caminhada pelo mundo dos arquitectos portugueses. Para alguns esta experiência além-fronteiras pode ser apenas uma experiência temporária e para muitos talvez seja o destino da sua vida.
Mas aqui em Portugal, ou têm de mudar de profissão ou se quiserem seguir o sonho de fazer arquitectura, a única solução é mesmo pegar no currículo e enviar para empresas fora do país.
O arquitecto Eduardo Souto Moura confessa mesmo: “O que tenho aconselhado à minha filha e aos meus amigos é que passem uns tempos fora. Antigamente, as pessoas emigravam e, como existiam 20 mil arquitectos cá, quando regressavam perdiam trabalho. Agora podem ir para fora sossegados, para onde quiserem, porque aqui não se vai fazer nada”."

Fonte: http://www.diarioimobiliario.pt/actualidade/arquitectos-a-procura-de-emprego-pelo-mundo/

Links úteis: http://arquitectospelomundo.com/
http://arquitectosportuguesesnomundo.blogspot.co.uk/