quinta-feira, 25 de julho de 2013

Em Entrevista


A Sandra Moreno é a nossa entrevistada de hoje. Com idade compreendida entre os 30 e os 35 anos a Sandra está emigrada no Reino Unido há 14 anos e conta-nos hoje um pouco da sua experiência.

O que te motivou a emigrar?
Educação – Universidade

Porquê a escolha do Reino Unido, particularmente Liverpool?
Escolhi Liverpool, Reino Unido, pois oferecia o curso que eu procurava. E uma das minhas amigas tinha lá uma prima.

Como foi o teu princípio?
Vim com as minhas duas melhores amigas. A inscrição na faculdade foi feita em Portugal através do British Council, o processo demorou um ano. O alojamento também foi arranjado ainda em Portugal, portanto foi só uma questão de aterrar e ir logo para a residência de estudantes. Chegámos uma semana antes do início do ano lectivo o que nos facilitou conhecer a cidade, as pessoas, comprar umas coisinhas para o quarto e claro aproveitar o “freshers week”.

* “freshers week” - correspondente à semana do caloiro em Portugal

Qual foi o sentimento dos primeiros dias / meses?
Nas primeiras semanas foi um sentimento de alegria, entusiasmo e orgulho. Era jovem, encontrava-me longe de casa com as minhas melhores amigas. Mas passado uns meses sofri bastante por não ter a família por perto, chorava muito, etc.. esse sentimento persistiu por um ano e pouco a pouco fui-me habituando à minha nova vida.

Que aspectos positivos/ negativos recordas aquando da mudança?
Positivos: Cresci muito como pessoa, aprendi a conviver com pessoas e situações completamente diferentes da minha realidade. Conheci países, cidades, culturas diferentes.

Negativos: Uma coisa muito pequena, mas que tem um grande impacto, hoje noto que não toco muito nas pessoas como uma boa portuguesa/caboverdeana. Explicando: muito raramente dou beijinhos às pessoas (incluindo os da minha cultura). Não brinco tanto com as crianças na rua (pois aqui existe um exagero que os adultos não devem falar ou brincar com as crianças, sem que os pais façam uma cara feia).
E por último, infelizmente começo a perder a fluidez da língua portuguesa (falada e escrita).

O que aqui conquistaste corresponde às expectativas que trazias? Em que sentido?
Sim a 90%... Vim para o Reino Unido porque tinha o sonho de expandir a minha mentalidade, conhecer outras culturas, aprender algo novo, viajar, etc.. portanto até hoje tudo isso corresponde à minha expectativa. Os outros 10%, aprendi que a cultura Britânica não é tão romântica como aprendemos em Portugal, que o nível de qualidade da educação escolar não se compara ao nível de Portugal.

Avalia de 0 a 10 (sendo 10 a nota máxima positiva) a tua experiência de forma geral.
10

De que mais sentes falta?
Da família

De que forma matas a saudade de Portugal?
Com a comida (cozinhar em casa ou comer em restaurantes), seguindo as notícias de Portugal (Jornal on line) e falando com os familiares sempre que possível.

Achas-te, como emigrante, responsável pela divulgação da cultura portuguesa?
Não, embora muitas vezes dou por mim a divulgar a comida portuguesa e os habitos alimentares, mas sinceramente não divulgo muito a cultura Portuguesa, creio que um dos motivos deve ser o facto de eu ter nascido em Cabo Verde.

Recordando os primeiros tempos de emigrante, recordas algum episódio engraçado que queiras partilhar?
Tenho tantos episódios mas entre eles há um que se destaca: uma vez fui ao banco com as minhas amigas, e no banco encontrava-se um rapaz muito bem parecido, tal como nós, ele encontrava-se na fila para ser atendido. Esse rapaz tinha a cara cansada e olhos bastante vermelhos. Viro-me para as minhas amigas e digo em Português: “Esse rapaz é lindíssimo, mas tem cara de drogado, o que é uma pena”. Ele olha para trás e diz EM PORTUGUÊS: “Por acaso não me drogo, acabei de acordar...”.

Farias tudo de novo ou o que mudarias?
Faria tudo de novo, igual, sem mudar nada.

Voltarias a viver em Portugal?
Talvez, depois da idade de reforma.

Onde e como te vês daqui a uns 15 ou 20 anos?
Em Inglaterra ou algures em África (Continente).

O que recomendarias a alguém que quisesse emigrar?
Que se prepare MUITO bem antes de emigrar (financeiramente e psicologicamente). Emigrar não é para toda a gente, há pessoas que não se adaptam a viver longe dos familiares e amigos.
Que venha com uma mente aberta sem grandes expectativas sobre o país de acolhimento, e que tenha um propósito.
Que tente arranjar trabalho ainda no país de origem (pois às vezes é muito complicado sobreviver no país de acolhimento sem meio de subsistência).
Acima de tudo, que tenha a noção da realidade do país de acolhimento.

Background photo | Foto de fundo por: Only Deco Love